A pesquisa divulgada pelo IPEA, sobre estupro, confirmou uma sentença que frequentemente ocorre no Brasil: a culpa é da vitima. Se as mulheres não usassem determinadas roupas- na realidade a falta de roupas- não haveria tantos estupros. O que se espera que as mulheres usem num país tropical de herança indígena? Pior ainda, este raciocínio desconhece que homens são estuprados nas cadeias do país e às vezes fora delas. Desconhece, também, que índios andam nus e não estupram. Consagra o raciocínio da violência justificada, na mesma linha do linchamento e do justiçamento.
A sociedade brasileira é violenta, no trânsito e fora dele; é também fortemente discriminadora quanto à raça, cor, religião, origem regional e gênero. O jogador Tinga demonstrou isto com lucidez. E pior, nordestinos discriminam negros, religiosos discriminam homossexuais, machões discriminam mulheres, alguns judeus discriminam goys, ricos fazem o mesmo com pobres. E se você for pobre, negro, nordestino, homossexual e ateu?
Penso que por trás da justificativa de que as mulheres incitam o estupro, esteja a ideia de que a mulher é mercadoria oferecida ao público; portanto se me seduziu tem que ir até o fim, queira ou não. Uma coisa que enlouquece os homens é ser excitado e deixado na mão; mas daí usar esta característica masculina para justificar o estupro é uma vilania abjeta. Não nos esqueçamos de que existe o estupro doméstico.
A tristeza aumenta quando a pesquisa revela que mulheres introjetam este raciocínio e o justificam. O único aspecto positivo que ressalta da pesquisa é que campanhas públicas contra o estrupo diminuem as ocorrências.
O estupro é uma forma de tortura, deixa marca para o resto da vida, na alma.
Têm-se um movimento tortura nunca mais. Porque não um movimento estupro nunca mais? Para mim, estupro é um crime hediondo.
Que país é este?
Francisco Marcelo Ferreira