Ruriko Nakamura (1961 – )

Ruriko Nakamura (1961)

Campeã paulista de golfe

Paulista e Nissei, Ruriko Nakamura, filha de japoneses, descobriu sua paixão pelo golfe aos 32 anos. No inicio, lembra, era difícil harmonizar torneios e treinos aos compromissos como comissária da Varig, sobretudo, as viagens internacionais.

Para Ruriko o golfe, paixão que compartilha com o marido, teve fundamental importância em sua vida, no período em que se submeteu ao tratamento de câncer da mama. “O esporte nos motiva a superar obstáculos”, diria tempos depois, sobre esse período de vida.

Apesar do avanço experimentado nos últimos anos, crianças e mulheres ainda são minoria no esporte. Comparando o golfe ao principal esporte nacional – o futebol, Ruriko diz que no primeiro, cada jogada é tão solitária e decisiva quanto a cobrança de um pênalti.

Vencedora de inúmeros torneios, no Brasil e no exterior – foi quatro vezes campeã paulista de golfe e campeã brasileira na modalidade matchplay, em 2013, Ruriko Nakamura tem, ainda, outra grande paixão: a culinária japonesa. Funciona em Sorocaba (SP) seu restaurante, o Izumi, onde os sushis e sashimis são preparados com a mesma qualidade e técnica que utiliza para marcar o hole-in-one , quando o golfista acerta o buraco de longe, com uma só tacada.
 

Dona Ritinha (1905 – )

Rita Maria da Penha (Dona Ritinha) – 1905

Florista da Banda de Congo Folclórico São Benedito

Rita Maria da Penha conhecida Dona Ritinha, aos noventa e nove anos (2004), mais de vinte netos, bisnetos e tataranetos, foi homenageada pela Associação das Bandas de Congo da Serra (ES).

Há seis décadas dona Ritinha é a florista da junta de bois que carrega o mastro nas comemorações de São Benedito, pelas ruas do município. As flores de flamboyant, em sua maioria colhidas no próprio quintal de casa, no bairro São Domingos, são suas preferidas para a ornamentação.

O gosto pela procissão veio da infância, vivida na roça, quando o pai alugava uma casa em uma comunidade próxima ao Rio Juá, para que toda a família pudesse acompanhar os festejos de São Benedito “bem de perto”.

Desde aquele dia em que, aos dezessete anos, observava no parapeito da janela o movimento de ornamentação e foi convidada por mestre José Rosa para ajudar não parou mais. Nem mesmo o casamento, aos 22 anos, a levou a mudar a rotina.

Dona Ritinha mora sozinha e apesar das dificuldades de audição e visão, todos os dias, às cinco da manhã, está de pé para tratar da vida, inclusive, costurando as próprias roupas. Se a saúde já não permite, como antes, sair atrás da procissão, não a levou a abandonar o vício do cachimbinho.

 

 

Maria Josefa Barreto Pereira Pinto (? – 1837)

MARIA JOSEFA BARRETO PEREIRA PINTO ( ??? – 1837)

Educadora, poetisa e primeira jornalista brasileira

Ser considerada a primeira jornalista brasileira é um título relativamente recente para Maria Josefa. Até que a pesquisa realizada – em documentos disponibilizados pelo Arquivo Público e pela Cúria Metropolitana de Porto Alegre -, e transformada em livro pelo historiador Roberto Rossi Jung, em 2004, o pioneirismo era creditado a baiana Violante Atalipa Ximenes Bivar e Velasco. Um dos registros encontrados por Jung indica que Josefa se casou por volta dos 14 anos, em 1800 e que por ocasião do falecimento de seus dois filhos, já havia sido abandonada pelo marido.
A história dessa monarquista pioneira fundadora do jornal Bellona , em 1833, e que já havia colaborado em outro jornal, A Idade do Ouro, universo então tipicamente masculino, tem início em Viamão (RS), ao ser abandonada pelos pais à porta da casa de uma das famílias da cidade, por quem foi adotada e educada.
Precursora também foi Maria Josefa, ao criar a primeira escola mista de Porto Alegre (RS), na década de 1830. Além de atender meninos e meninas em um mesmo estabelecimento, o que não era comum, ousava ainda, ao ensinar a essas últimas, latim, geografia e filosofia.
O Bellona circulou até sua morte, em 1837, ocasião em que a então província do Rio Grande do Sul declarou guerra ao Império brasileiro, no episódio que se tornou conhecido como Guerra dos Farrapos.
 

Neuza Maria Alves da Silva

Neuza Maria Alves da Silva (1951 – XXX )

Educadora e primeira Desembargadora Negra do Brasil.

Também conhecida com Neuza Pioneira e nascida em um cortiço em Salvador, no bairro de Tororó, jamais foi reconhecida pelo pai, a quem viu esporadicamente até os quatro anos de idade. Em toda sua trajetória contou com o apoio e incentivo da mãe, mulher de “poucas letras”. Dentre os muitos obstáculos que precisou superar aquele vivenciado aos 14 anos, destaca-se em sua narrativa, como o episódio que lhe permitiu perceber a exclusão social da qual são vítimas muitas mulheres e homens negros/as: ninguém a escolheu como par na quadrilha da igreja.

Aluna de escolas públicas durante toda sua trajetória escolar, após a conclusão do curso de formação de professores/as – magistério-, onde ingressou ao completar o ginasial, prestou o vestibular para a Universidade Federal da Bahia, tornando-se aluna do curso de Direito, concluído em 1974. Posteriormente fez especialização em Direito Processual, na Fundação Faculdade de Direito do Estado da Bahia e em Direitos Humanos pela Universidade Estadual da Bahia – UNEB, em convênio com a Escola do Ministério Público do Estado da Bahia.

Durante treze anos exerceu a advocacia: cinco em uma empresa de Consultoria Tributária e mais de oito como advogada da Rede Ferroviária Federal, na Bahia, de onde se desligou após ser aprovada em primeiro lugar, em concurso público realizado em 1988, para o cargo de Juíza do Trabalho. Aqui, entretanto, permaneceu apenas dez meses: aprovada em novo concurso público, tornou-se Juíza Federal, atividade que desempenhou com dignidade por 17 anos.

Além de exercer diversos cargos em sua área, destacou-se também, na Associação dos Juízes Federais do Brasil, seção da Bahia, bem como, no Conselho Estadual de Defesa dos Direitos da Mulher – CDDM/BA, onde permaneceu durante dois anos.

A posse no cargo de Desembargadora Federal, tornando-se assim a primeira mulher negra a ocupar tal posto no país, ocorreu em 2004, após ter seu nome escolhido em lista tríplice apresentada ao Presidente da República.

Seu envolvimento e preocupações constantes com as oportunidades e direitos relacionados à construção da plena cidadania feminina e dos afro-descendentes, fazem com que, apesar dos muitos compromissos próprios do cargo quer ocupa, possa ser encontrada proferindo palestras em eventos organizados por entidades sociais.

Em 2008, doutora Neuza recebeu da Câmara de Vereadores da Salvador, a comenda Maria Quitéria, como reconhecimento a sua atuação e pioneirismo, em um país historicamente marcado pela ausência de oportunidades, sobretudo, aquelas oferecidas a mulheres negras e pobres.

Maria Renotte (1852 – 1942)

Maria Renotte (1852 – 1942)

Educadora, médica e sufragista.

Nascida em Liége, na Bélgica, concluiu o magistério em Paris e, em 1878 chegou ao Brasil para trabalhar como governanta. Contratada algum tempo depois como professora do Colégio Piracicabano, em Piracicaba (SP), fundado pela missionária metodista Martha Watts, desenvolveu uma pedagogia pouco comum na época, sobretudo em instituições escolares destinada a moças: ensinava matérias científicas e, para isso, valia-se de jornais e revistas. Era também colaboradora de A Família, publicação feminista dirigida por Josefina Álvares de Azevedo e editada por brasileiras, que denunciavam as situações de injustiça e opressão comuns às mulheres de então.

Em 1892, aos 40 anos, conclui o curso de medicina nos Estados Unidos com especialização em Paris. Em 1895, para que pudesse validar seu diploma no Brasil, defendeu na Universidade Nacional, no Rio de Janeiro, tese na qual denunciava os prejuízos à saúde da mulher causados pelas exigências da moda, como o uso de espartilhos e ainda, a irresponsabilidade dos médicos homens, que mantinham as mulheres em estado de total ignorância em relação a seus corpos.

A partir de então, sua trajetória na área da saúde foi ininterrupta: Assumiu a direção da Maternidade de São Paulo, implantando novo atendimento às gestantes e, enviada a Europa, pela Sociedade de Medicina e Cirurgia, teve como missão buscar informações para organizar a Cruz Vermelha no Brasil, o que concretizou em 1915, tornando-se sua primeira presidente.

Embora fosse evangélica, atuou na Clínica Cirúrgica da Enfermaria de Mulheres da Santa Casa de Misericórdia, ao lado de Arnaldo Vieira de Carvalho, um dos mais renomados médicos da época. Chama atenção esse fato e enfatiza o reconhecimento da competência de Maria Renotte, pois a instituição tradicionalmente rejeitava fiéis de outras religiões em seus quadros. Ainda na Santa Casa implantou, em 1914, a primeira turma da escola de formação de enfermeiras no país, da qual foi também professora. Durante a Primeira Guerra Mundial (1914/1918) ofereceu um curso especial de preparação para voluntárias.

Apesar de intensa atuação, Maria Renotte preocupava-se também com a precária situação da saúde infantil no país, que resultava em elevada taxa de mortalidade. No início da década de 1910, iniciou duas campanhas, ambas destinadas à população de baixo poder aquisitivo. A primeira visava à instalação da Casa do Convalescente. A segunda, que buscou a arrecadação de fundos junto a elite paulistana e, ao mesmo tempo, mobilizar os 176 mil alunos/ matriculados nas escolas públicas, para que doassem um tostão por mês, visava a construção de um hospital. Ao final dessa mobilização, com os nove mil e quinhentos réis arrecadados e sob a direção de Ramos de Azevedo, a construção do Hospital de Crianças, no bairro de Heliópolis, foi iniciada em terreno igualmente doado. Inaugurado em 1918, funcionou até 1982.

A militância em defesa das mulheres, contudo, não foi esquecida e, aos 70 anos, em 1922, juntou-se à luta pelo voto feminino, sendo eleita vice-presidente da Aliança Paulista pelo Sufrágio Feminino. Aos 83 anos retornou à cidade de Piracicaba, para homenagem concedida pelo Colégio Piracicabano. Na ocasião doou à instituição, a medalha da Cruz do Mérito, concedida pela Alemanha, por seus esforços humanitários durante o período da primeira Guerra Mundial.

Ao falecer, em 1942, em São Paulo, cega e sem recursos, sobrevivia da humilde pensão concedida, em 1938, pelo governo do estado.

Alaíde Costa (1935 – )

Alaíde Costa (1935- XXXX)

Cantora e compositora

Alaíde Costa Silveira Mondin Gomide, a menina negra que desde pequena cantarolava pelos cantos da casa nasceu no Rio de Janeiro (RJ). Aos 13 anos venceu o concurso de melhor cantora jovem, no programa Seqüência G3, da rádio Tupi, do Rio de Janeiro, comandado por Paulo Gracindo. A partir de 1952, passou a freqüentar os programas de calouros A Hora do Pato e Pescando Estrelas, este apresentado por Ary Barroso na Rádio Clube do Brasil, pela qual foi contratada.

Seu primeiro disco foi gravado em 1957, Tarde demais de Hélio Costa e Anita Andrade, rendendo-lhe o prêmio Revelação do Ano, ainda no mesmo ano, também pela Odeon, gravou Conselhos, de Hamilton Costa e Richard Franco e Domingo de amor de Fernando César. Em 1959, atraída para a Bossa Nova, por João Gilberto, incluiu músicas desse movimento em seu primeiro disco pela RCA: Estrada branca (Tom Jobim e Vinícius de Morais), Lobo bobo (Carlos Lyra e Ronaldo Bôscoli), grande sucesso, e Minha saudade (João Donato e João Gilberto), além de haver participado de diversos shows.

Em 1960, em primeira oportunidade em São Paulo, SP, participou do Festival Nacional da Bossa Nova, no Teatro Record. Cidade para onde se muda definitivamente em 1962, após o casamento e dois anos mais tarde se consagra com o show O fino da bossa, realizado no Teatro Paramount, cantando Onde está você (Oscar Castro Neves e Luverci Fiorini), música que lhe valeu um contrato por dois anos com a TV Record. Sucesso que lhe trouxe muitos convites e as apresentações de 1964 e 1965: teatro Santa Rosa, no Rio de Janeiro, com Oscar Castro-Neves; I Festival Universitário da TV Tupi, de São Paulo e recital de canções renascentistas Alaíde alaúde, com o maestro Diogo Pacheco, no Teatro Municipal de São Paulo.

Conseqüência dos problemas de saúde, que a partir de 1966 prejudicaram sua audição interferindo no canto, bem como, por acentuada fidelidade ao repertório que executava até então, Alaíde decide afastar-se da vida artística. Seu retorno, em 1972, se deu através da faixa Me deixa em paz, do LP Clube da Esquina, de Milton Nascimento, com quem realizou também várias apresentações no Teatro Teresa Raquel e na Sala Cecília Meireles, no Rio de Janeiro. No mesmo ano, retomou as gravações através do lançamento de dois compactos: Diariamente (Paulo César Girão e Gérson), Antes e depois (Oscar Castro-Neves); Diz (Walter Santos e Teresa Sousa); Enlouqueci (Luís Soberano, Valdomiro Pereira e João Sales), Ansiedade (Paulinho da Viola) e E a gente sonhando (MiIton Nascimento). Da mesma década, 1975, é a regravação de Onde está você.

Sete anos depois, em 1982, Águas vivas, que chega ao público como produção independente, anos mais tarde daria origem ao CD Alaíde Costa e João Carlos Assis Brasil (1995), lançado pela gravadora WEA, tanto no Brasil, como na França. Em 1988, também como LP independente, foi a vez de Amiga de verdade, em que canta ao lado de Paulinho da Viola, Milton Nascimento, Ivan Lins, Egberto Gismonti e outros.

O espetáculo Coração violão, acompanhada por Paulinho Nogueira, Alaíde Costa canta Tom Jobim, acontecem em São Paulo, em 1991. Sua apresentação, em 1994, no Rio de Janeiro, ao lado do pianista João Carlos Assis Brasil, registrado em CD chega ao público pela Movieplay no ano seguinte. Em setembro de 1997, José Miguel Wisnik convidou-a para Rumos Musicais, do Instituto Cultural Itaú, de São Paulo.

Em Afinal e também em parcerias com Vinícius de Morais, Geraldo Vandré, Paulo Alberto Ventura e Hayblan, atuou como compositora, respondendo ainda por letra e música. Alaíde, considerada por muitos a grande dama da canção, com quinze discos gravados comemorou em 2007, cinqüenta anos de lançamento de seu primeiro disco.

 

Alice Editha Klausz (1928 – )

Alice Editha Klausz (1928 – )

Aeromoça

Alice Editha Klausz, gaúcha de Porto Alegre formou-se, no primeiro grupo de aeromoças da Varig, aos 26 anos, em 1954. Graduada em Direito e Biblioteconomia, reside no Rio de Janeiro desde 1967.

Em 35 anos de atuação no ar, inaugurou vários vôos da companhia, inclusive aquele que ligava sua terra natal a Nova Iorque, atuou como chefe de cabine, diretora da Escola de Comissários, tendo sido responsável pela formação de mais de quatro mil comissários e atendeu a diferentes presidentes, como Juscelino Kubistchek, João Goulart, Costa e Silva e Lula.

Aposentada em 1989, mas não parada, Tia Alice, como é carinhosamente tratada, como aeromoça voluntária, integra há quase 20 anos a equipe do Programa Antártico Brasileiro, em seu deslocamento para a estação Comandante Ferraz, na Antártida.

Atualmente, aos noventa anos, vive apenas da aposentadoria paga pelo INSS, pois a complementação a que teria direito, através do Instituto Aerus de Seguridade Social, para o qual descontou vários anos, foi-se por água abaixo após a falência da Varig. Alice recebeu em 2008, o Diploma Mulher Cidadã Bertha Lutz, concedido pelo Senado Federal.

Chica Barbosa (1910 – )

CHICA BARBOSA

Repentista Negra

FRANCISCA MARIA DA CONCEIÇÃO – Nasceu na Paraíba nos meados de 1910. Genial repentista negra, desafiou um homem branco, fazendeiro, Manuel Martins de Oliveira (Neco), também conhecido repentista, para um duelo na Fazenda São Gonçalo.
Para humilhar sua rival, Neco começou a rodada com o seguinte verso: "Eu agora estou ciente que negro não é cristão/Pois a alma dessa gente sai debaixo do chão/E lá na mansão celeste, não entra quem é ladrão".
Chica rebateu com elegância, respondendo que a diferença não estava na cor "se quiser Nosso Senhor, vai o branco pra cozinha, e o preto pro andor".
Ao anoitecer os presentes exigiam mais calor nos desafios e, por ser bastante habilidosa Chica ganhava o duelo, quando irritado, o coronel sacou uma arma, tentando atingir Chica, sem porém consegui-lo. Quando se acalmaram os ânimos, Chica voltou ao local do duelo, despedindo-se do coronel com os seguintes versos: "Nesta nossa cantoria, estremeceram-se os céus/até os mortos ouviram, no fundo dos mausoléus/com uma bala acabou, a raça dos fariseus/colega Neco Martins, aceite meu triste adeus".
Poucos dados existem sobre essa mulher, bastante popular entre os cantadores que mostrou com sua simplicidade que a arte sobrevive apesar da discriminação racial, social e do machismo e passa para nós que a arte é a mania de fazer arte.

Fonte: Cartilha “Mulher Negra tem História” Alzira Rufino, Nilza Iraci, Maria Rosa, 1987.

Pérola Byington (1879 – 1963)

Pérola Byington (1879 – 1963)

Fundadora da Cruzada Pró-Infância

Filha dos americanos Mary Ellis McIntyre e Roberto D. McIntyre, descendentes de famílias que imigraram dos Estados Unidos após a Guerra Civil, Pearl Byington nasceu em 03 de dezembro de 1879, na Fazenda Barrocão, em Santa Bárbara do Oeste ( SP). Além da filha Pearl (que mais tarde adotaria o nome de Pérola), o casal teve as meninas Mary e Lillian.

Em Piracicaba (SP) Pérola iniciou os estudos. Foi aluna do Jardim de Infância da Escola Americana, fundada e dirigida por Miss Watts e a professora e médica belga Maria Renotte, que além de ter sido, na última década do século XIX, a primeira e única médica na capital paulista por mais de uma década e haver se dedicado à criação de uma filial da Cruz Vermelha em São Paulo, como defensora dos direitos femininos participou da fundação da Aliança Paulista pelo Sufrágio Feminino, tendo sido uma das vice-diretoras. Mais tarde Pérola tranferiu-se para o colégio fundado por sua mãe.

Aos catorze anos, completou os preparatórios para a Escola Normal. Contudo, como não tinha ainda a idade mínima para inscrição que era de dezesseis anos, foi impedida de matricular-se. Recebeu então aulas particulares, com exceção de latim, que aconteciam em uma escola masculina. Pérola ficava atrás de um biombo para não atrapalhar a aula do professor. Apenas em 1899 obteve o diploma de professora.

Ainda na Escola Normal, fez os preparatórios no Curso Anexo da Academia de Direito de São Paulo. Sua intenção não foi bem recebida pelos acadêmicos, então desfavoráveis à abertura do curso ao sexo feminino e Pérola não foi aprovada no exame de geografia.

Casou-se em 1901, com um dos pioneiros da indústria brasileira, Alberto Jackson Byington, com quem teve dois filhos Alberto e Elizabeth. Em 1912 o casal partiu para os Estados Unidos, para onde haviam levado os filhos para estudar. Como conseqüência da Primeira Guerra Mundial a família não pode voltar ao Brasil e Pérola passou a colaborar com a Cruz Vermelha americana captando recursos.

Ao retornar ao país na década de 20, deparam-se com a cidade de São Paulo em efervescente desenvolvimento econômico e social. Encontraram também os contrastes econômicos e sociais que caracterizavam a população. Pérola então passou a trabalhar na Cruz Vermelha, ao lado de Maria Renotte, sua antiga conhecida, chegando a exercer o cargo de Diretora do Departamento Feminino.

Em 1930, aos cinqüenta anos, junto à educadora sanitária Maria Antonieta de Castro, fundou a Cruzada Pró-Infância, em São Paulo, entidade voltada ao combate da mortalidade infantil, cujos índices eram assustadores então. Pérola foi eleita diretora geral e assim permaneceu por 33 anos.
O programa de ações da entidade incluía, inclusive, tentar junto aos poderes públicos a concretização obtenção de leis favoráveis à gestante e à criança, além de criar dispensários com serviços de clínica geral, higiene infantil, pré-natal, fisioterapia, dietética e odontologia.
A criação de uma casa para abrigar mães solteiras- em uma época em que eram discriminadas!- e casadas sem apoio familiar foi iniciativa pioneira. Pérola compreendia ser a maternidade função social do estado e defendia a assistência à mãe solteira como uma forma de enfrentamento dos problemas sociais. Era combativa defensora da educação sexual.
Como conseqüência projetos infantis e creches com serviços de psicologia foram implantados. O hospital-infantil inaugurado em 1959 oferecia, ainda, cursos para estagiários acadêmicos. O funcionamento da Cruzada dependia da participação de todos. Pérola e seu grupo conseguiram constituir uma rede de solidariedade. Profissionais famosos atuavam voluntariamente no Ambulatório-Central, enquanto outros atendiam gratuitamente os pacientes nas residências. Laboratórios realizavam exames sem cobrar aos pacientes e algumas farmácias doavam medicamentos.
Pérola foi também, uma das pioneiras na cobrança da divulgação causas da alta mortalidade no parto e pós-parto, objetivando melhorar a qualidade do pré-natal. Por uma de suas cobranças públicas, ocorrida em julho de 1938, na Semana das Mães, recebeu críticas das autoridades. Sua persistência para a institucionalização do Dia e da Semana da criança visava não motivos comerciais, mas acreditava que seria uma importante forma de chamar a atenção sobre os problemas da infância.

Colaborou ainda para ajudar a eleger Carlota Pereira de Queiroz, médica paulistana e primeira mulher eleita deputada federal no Brasil, na Constituinte de 1934.

Por sua atuação essencial à história da assistência à infância, Pérola foi alvo de várias homenagens. Em 1947 recebeu o título de Membro Honorário da Sociedade Brasileira de Pediatria. Até a ocasião, a única não-pediatra, a merecer tamanha distinção.

Emprestou seu nome ao antigo Hospital da Cruzada, batizado de Pérola Byington após seu falecimento, em 1963, e também à praça localizada em frente ao hospital, na Av. Brigadeiro Luiz Antonio, região central da cidade de São Paulo. Em 1978 seu busto foi inaugurado na praça.

A maior homenagem certamente à Pérola, contudo, é a forma como seu hospital hoje em dia é conhecido pela população: Hospital da Mulher.

Ruth Rachou (1927 – )

Ruth Rachou (17 de agosto de 1927)

Bailarina, pioneira da dança moderna no Brasil

Foi por imposição da mãe que Ruth Margarida da Silva, paulistana de ascendência alemã, aos quatro anos tomou contato com a dança. Anos mais tarde diria que, apenas a partir da adolescência tomou gosto e decidiu estudar mais aprofundadamente dança clássica, até realizar o teste e ser aprovada em 1954, para o Ballet IV Centenário, berço do pensamento moderno da dança no Brasil.

Com a extinção da Companhia Ballet IV Centenário, pelo então prefeito Jânio Quadros, em dezembro de 1955, cerca de 60 pessoas ficaram na rua da noite para o dia. Muitos dos estrangeiros (as) não tiveram outra opção a não ser o retorno a seus países.

Para sobreviver Ruth Rachou, como ficou conhecida, dançou em vários grupos, entre os quais, o “Ballet do Museu de Arte de São Paulo” e participou ainda de filmes musicais produzidos nos estúdios da Companhia Cinematográfica Vera Cruz. Entre 1960 e 1967 trabalhou na TV Record, na ocasião a emissora de maior audiência do país e que dedicava parte de sua programação a musicais.

Nesse período, em que atuava como coreógrafa e diretora do núcleo de dança da Record recebeu o prêmio Roquete Pinto como coreógrafa do Balé da Record e travou contato com a Sonia Shaw, ocasião em que se encantou com a forma diferente de suas aulas, bem como, das técnicas de aquecimento que até então desconhecia.

A coreógrafa americana estava no Brasil para montar os espetáculos Tio Samba e Squindô, nos quais Ruth participou como bailarina. Instalou-se em Ruth a curiosidade sobre essa nova maneira de dançar e ensinar. Na busca de respostas constatou que poucas escolas no país adotavam essa nova dança. Por intermédio de outra americana ouviu falar de Martha Graham e dança moderna.

Em 1967 Ruth já estava matriculada na escola de Marta Graham, em Nova Iorque (EUA) e ouviu da própria mestra que teria que começar do princípio. Assim fez. Passou pelos níveis básico e médio até chegar ao avançado. Aprofundou-se ainda nas técnicas de Merce Cunningham e José Limón, outros dois grandes expoentes da dança moderna americana de então.

Após participar do Festival de Dança de Connecticut (EUA) retorna ao Brasil e participa de várias atividades, atuando como solista no Ballet Contemporâneo de São Paulo e no espetáculo Vestido de Noiva. Dentre as muitas coreografias que desenvolve, destaca-se a criada para o espetáculo “Zebedeu”, que representa o Brasil nos Festivais de Nancy, na França, e Wroclaw, na Polônia e para a TV Cultura.

Em 1972 abre sua própria escola e dança como solista nos espetáculos “Caminhada” e “Isadora, Ventos e Vagas”, “Dédalo e o Redemunho” e “Amargamassa”, Em 1978, participa do movimento “Arte Aberta”, dançando “Edipus Corpus Cristo” e no ano seguinte produz a dança “Sonho de Valsa”.

Em 1980 é eleita em assembléia da classe como presidente da Comissão de Dança da Secretaria Estadual de Ciência, Tecnologia e Cultura de São Paulo e cinco anos depois, 1985, assessora Klauss Vianna na direção do Balé da Cidade.

Entre 1985 e 1987, produz e dirige a mostra “Inventores da Dança”, que se afirma como espaço pioneiro para a revelação de novos coreógrafos. A interpretação do papel de Isadora Duncan, no espetáculo “Nijinsky”, de Naum Alves de Souza, acontece em 1987.

Sua escola passa a oferecer também na década de 1980, cursos inéditos em escolas de dança, entre eles o curso multidisciplinar “Corpo Inteiro”, um projeto piloto para o ensino da dança no Ensino Médio. Destaca-se também como presença constante em festivais de dança pelo país.

Em 1989 torna-se responsável pelo ensino de dança moderna na Escola de Bailados da Prefeitura de São Paulo, onde esteve por quase quinze anos. Desde o início da década de 1990, além de comprometida com a divulgação da técnica de Martha Graham dedica-se também aos ensinamentos de Joseph Pilates, método que estudou nos Estados Unidos e defende estar contribuído mundialmente para o aperfeiçoamento técnico de bailarinos(as).

A partir de 1992, em cooperação com o CENA, Centro de Encontro das Artes, realiza o projeto “A Técnica Conta a Dança”, no qual a história da dança moderna é ensinada de uma forma prática. Como diretora e coreógrafa, cria o Grupo de Dança Ruth Rachou.

Seu retorno aos palcos como bailarina ocorreu em 2000, no projeto “Feminino na Dança” do Centro Cultural São Paulo, mesmo ano em que foi homenageada na 2ª Bienal de Dança, no SESC de Santos e estréia o solo “Dançarinar”. Em março de 2002, estréia o solo “Depois de Ontem”, no projeto “As Damas da Dança” no SESC Ipiranga, em São Paulo e no SESC Santo André. Em 2003 dança “A Promessa” no espetáculo Gala 3 no Teatro Procópio Ferreira e um ano depois apresenta “A Promessa” no Teatro Alfa e Teatro. Em 2005 apresentou-se no Tetro Alfa e Teatro Sérgio Cardoso.

A trajetória de vida dessa mulher de personalidade aberta e desbravadora, e que não por acaso veio ao mundo no mesmo ano de morte de Isadora Duncan (1927) – precursora da dança moderna e defensora de uma dança livre de espartilhos, meias e sapatilhas de ponta-, e que foi concebida no ano em que Martha Graham fundava sua Companhia de Dança na América do Norte-, foi essencial para sedimentar a formação de qualidade da dança no país. Ruth Rachou batalhou toda sua vida por uma ampla formação dos bailarinos(as) forjada dentro e fora da sala de aula.
Aos 80 anos, em 2008, Ruth Rachou participou do lançamento de sua biografia, de autoria de Bernadette Figueiredo e Izaías Almada, publicada pela Caros Amigos, Editora de São Paulo. A homenagem à bailarina contou ainda com a exposição Re-Tratos e com o espetáculo Vir a Ser.
Também o Projeto Figuras da Dança, da São Paulo Companhia de Danças, do Governo do Estado de São Paulo, cuja proposta é incentivar o registro e a preservação da memória da dança brasileira no país lhe prestou homenagem no mesmo ano. Ruth é uma das personalidades que teve sua vida revisitada e disponibilizada em vídeo e fotos. O material não é comercializado, mas distribuído para instituições educativas e culturais, principalmente as que dispõem de biblioteca pública, além de universidades e ONGs.

Em setembro de 2010 recebeu do Governo do Estado de São Paulo a Medalha dos Bandeirantes, que lhe foi concedida pelo mérito cultural.