Alzira Nogueira Reis (1886 – 1970)

Alzira Nogueira Reis (1886 – 1970)

Primeira médica formada do Estado de Minas Gerais e uma das primeiras eleitoras do Brasil.

Nascida em uma casa na descida da Barra, em Minas Gerais, em 08 de novembro de 1886, Alzira filha de Augusta Pinheiro Nogueira e José da Costa Reis teve uma vida marcada pelo pioneirismo e pela luta em prol das causas femininas.
Formada professora aos 16 anos lecionou inicialmente em Santa Cruz da Chapada, deslocando-se a seguir para Minas Novas, Ouro Preto e, finalmente, Juiz de Fora onde descobriu a vocação para a medicina.
Com a transferência para Belo Horizonte, já em 1913 freqüentava a Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. Ao formar-se em 1920 torna-se a primeira mulher médica do estado. Resultado de suas idéias libertárias e sua ousadia por “querer fazer coisas de homem”, por cerca de seis meses sua mãe não lhe dirigiu uma palavra.
A reação da mãe não foi a única barreira experimentada. Anos mais tarde lembraria que, já matriculada no primeiro ano de medicina, foi chamada pelo diretor, que tentou de todas as formas, sem sucesso, convencê-la a continuar na Faculdade de Farmácia, de onde havia se transferido e que, como mulher, só pode cursar após enviar diversos pedidos ao Ministério da Educação para obter a autorização de ingresso.
A insistência do diretor transmitia a preocupação de toda a direção: como poderia uma mulher entrar em contato com cadáveres masculinos e nus nas aulas de anatomia? Alzira chegou mesmo a receber a garantia que, caso cedesse, lecionaria química na faculdade ao formar-se. A vocação e o espírito de luta pelos direitos femininos falaram mais altos e prosseguiu firme em sua decisão, não sem enfrentar preconceitos de muitos dos colegas e professores, bem como, da sociedade.
Aliás, formar-se médica e ser a pioneira a clinicar no estado Minas Gerais, não havia sido a primeira barreira quebrada por Alzira. Ainda em 1905 ela e as amigas, Cândida Maria Souza e Clotilde de Oliveira alistaram-se como eleitoras invocando a Constituição. Pioneiras causaram grande escândalo e revolta, sobretudo, na própria cidade e seis anos depois tiveram os votos cassados, como registrado nos Anais da Assembléia Legislativa de Minas Gerais. Polêmico episódio de nossa história, concorre com aquele que credita ao Rio Grande do Norte (RN) o estado de onde surgiram as primeiras eleitoras brasileiras.
Alzira defendia suas opiniões, gostos e valores. E isso incomodava homens e mulheres apegados aos valores e tradições de uma sociedade, na qual a figura feminina era considerada inferior e dominada pelo homem. Não por acaso seu corte de cabelo “á lá Cocote”, que fez em uma visita ao Rio de Janeiro, certa vez, acabou por provocar tanto escândalo nas Minas Gerais!
Foi ainda no curso de Medicina que Alzira conheceu Joaquim Vieira Ferreira Neto, estudante de Direito, com quem viria a se casar e tornar-se mãe de Fernanda, José Bento, Joaquim Miguel e Vicente. A união de um rapaz de dezoito anos a uma mulher quinze anos mais velha e ainda por cima médica, mais uma vez colocou Alzira no centro das polêmicas.
Após passar por Nova Friburgo (RJ), com Alzira sempre clinicando, o casal esteve em Minas Novas, Araçuaí, Teófilo Otoni e retornando ao Rio de Janeiro em 1930, se estabeleceu em Niterói, onde Joaquim faleceu em 1961.
Sua preocupação de toda a vida com os menos favorecidos culminou na fundação em 1939, ao lado de Alice Tibiriçá, do Educandário Vista Alegre, em Itaboraí (RJ), para filhos dos portadores de hanseníase, e no qual atuou voluntariamente como administradora.
Seu envolvimento com a luta feminina a levou a aliar-se a Berta Lutz, em 1931 participando da Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, em defesa do direito do voto da mulher, concorrendo, inclusive, à Assembléia Constituinte. Um ano antes, em 1930, com o pseudônimo “Selva Americana”, Alzira Reis escreveu “Pelo Voto”, artigo publicado em Teófilo Otoni (MG). Sua participação na imprensa, na defesa de suas idéias, foi extensa e em diferentes locais como Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro.
Alzira faleceu em 21 de agosto de 1970. Como homenagem, a médica obstetra do posto de saúde de Niterói, empenhada, sobretudo, na defesa dos portadores da hanseníase, emprestou seu nome Alzira Reis Vieira Ferreira, à primeira maternidade municipal de Niterói, inaugurada em 2004, no bairro de Charitas.

Marta Guarani (1942 – 2003)

Marta Guarani (1942-2003) 

Líder articuladora das causas indigenistas e feminista

Nascida Marta Silva Vito, em 29 de Julho de 1942, na aldeia Jaguapiru (MS) e chamada ao nascer Kunha Gevy, que na língua natal significa uma nova mulher. De fato, ao longo de seus 62 anos, não faltaram inúmeras lutas e adversidades que a obrigaram, constantemente, a renascer como nova mulher.

Guerreira incansável das causas indígenas e união dos povos na luta por seus direitos e demarcação de terras, Marta aos 28 anos, teve que deixar a aldeia onde nasceu, após denunciar abusos cometidos à época pela administração local da FUNAI, que destituiu o cacique e o pajé, implantando na comunidade indígena uma milícia comandada por um capitão.

Inicio de uma vida que seria marcada por luta e coragem, partiu para Dourados (MS), onde se concentravam as famílias Guarani expulsas das reservas. De lá ganhou mundo. Na década de 1970 foi perseguida pela ditadura militar, como conseqüência de sua articulação dos povos indígenas contra o latifúndio.

Através da Associação de Índios Kaguateca "Marçal de Souza", criada com objetivo de encaminhar denúncias e reivindicações dos povos indígenas Kadiwéu, Guarani, Terena e Kaiowá, lutou pela preservação de tradições, usos e costumes e articulou-se com organizações sociais e populares de Mato Grosso do Sul, ligadas às questões dos Direitos Humanos e Ambientais nas lutas pela Reforma Agrária. Dar à Associação o nome Marçal de Souza foi uma homenagem prestada ao tio, o cacique Tupã-Y, assassinado na luta pelos direitos indígenas na década de 1970.

Em 1986, mesmo doente concorreu ao cargo de vereadora, sem eleger-se. Conseguiu, contudo, a criação da unidade da FUNAI em Amambaí, região de concentração de distintos povos indígenas. Participação efetiva teve ainda no reconhecimento dos Guató, de Corumbá, então considerados extintos. Marta Guarani localizou anciãos dessa etnia. O trabalho de levantamento histórico resultou na demarcação da terra indígena Guató.

A construção em 2001, da aldeia urbana Água Bonita, em Campo Grande (MS), que deu inicio à organização de índios(as) desaldeados, também contou com a atuação de Marta Guarani.

Marta Guarani teve participação ativa no movimento de mulheres como integrante do Conselho Estadual dos Direitos da Mulher e liderando a representação de mulheres indígenas de Mato Grosso do Sul na Conferência Nacional de Mulheres Brasileiras.

Faleceu de problemas cardíacos, em 06 de setembro de 2003, aos 61 anos de idade. Seu corpo foi velado na Assembléia Legislativa de Mato Grosso do Sul. Marta Guarani, a Kunha Gevy, com sua luta, contribuiu para que várias outras novas mulheres indígenas possam se orgulhar de sua ancestralidade.

Virgínia Leone Bicudo (1910-2003)

 Virgínia Leone Bicudo
(1910-2003)

Virgínia Leone Bicudo natural de São Paulo, SP, socióloga por formação, foi reconhecida como a primeira mulher a freqüentar seções de psicanálise no país e tornou-se a primeira psicanalista brasileira. Na década de 1930, foi co-fundadora da Sociedade Brasileira de Psicanálise (SBP). Atuou, também, como professora normalista e educadora sanitária pelo Instituto de Higiene e Saúde da Universidade de São Paulo (1932). Foi uma das fundadoras do primeiro núcleo psicanalítico da América Latina, nos anos 1944, e viajou para Londres, na década de 1950, para expandir os seus conhecimentos teóricos e metodológicos sobre a psicanálise. Virgínia foi responsável pelo lançamento de importantes publicações na área e é considerada uma precursora da psicanálise no Estado de São Paulo. Em reconhecimento ao seu vanguardismo Virginia foi incluída no Livro Mulheres Negras do Brasil, lançado em 2007, pelas Editoras SENAC. Para comemorar os 100 anos do seu nascimento a SBP de São Paulo está programando uma série de palestras sobre ela. Acervo Divisão de Documentação e Pesquisa da História da Psicanálise da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo.

Ruth Machado Louzada Rocha (1931 – )

Ruth Machado Louzada Rocha (1931 – )
Escritora Infanto Juvenil

Ruth Rocha, como ficou conhecida, nasceu na cidade de São Paulo, em 1931. Livros e gibis foram companhias constantes na infância de Ruth Rocha, em sua casa na Vila Madalena (SP), onde cresceu ao lado do pai – o médico carioca Álvaro de Faria Machado, da mãe – Ester de Sampaio Machado-, duas irmãs e dois irmãos. Dormia embalada em histórias contadas pelo avô Ioiô.

Da biblioteca do pai, dentre outras, a lembrança de um livro sobre cantadores nordestinos, com o qual se impressionava como, de gente tão humilde, pudesse brotar tanta maravilha. Adiante, já na Biblioteca Circulante que ficava na Praça Dom José Gaspar, no centro de São Paulo, travou contato com a poesia brasileira. Contudo, anos mais tarde confessaria em uma entrevista, que foi Eça de Queirós, com As Cidades e as Serras, que a levou a apaixonar-se definitivamente pela literatura. E olha que a leitura foi obrigatória, para um trabalho da escola!

Graduada em Sociologia e Política pela Universidade de São Paulo e pós-graduada em Orientação Educacional, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, atuou como orientadora educacional (1956 a 1972). Nessa ocasião, Ruth pode vivenciar as questões e dificuldades relacionadas à infância, bem como, o avanço e conquistas experimentadas então, pelas mulheres. Experiências de vida que marcaram sua formação.

Em 1967, passou a escrever para a revista Claudia artigos sobre educação e, ainda na Editora Abril, atuou como redatora, editora e diretora da Divisão de Infanto-Juvenis. A respeito de suas histórias infantis, que surgiram na revista Recreio, da mesma editora e publicadas a partir de 1969, Ruth lembra que a primeira delas saiu na marra. Sonia Robato, a diretora, a trancou em uma sala e deu o ultimato. Só seria solta após escrever. Foi assim que surgiu a historia das duas borboletas, Romeu e Julieta, como resposta a uma indagação que lhe havia sido feita pela filha Mariana: “Por que negro é pobre?”

Desde que publicou seu primeiro livro em 1976 (“Palavras Muitas Palavras”), não parou mais. Entre 1977 e 1988 produziu 67 livros. Hoje tem mais de 130 títulos (ficção, didáticos, paradidáticos e um dicionário) em 25 idiomas, com oito milhões de exemplares. Sua obra destaca-se pela tendência ao humor, pela abordagem de problemas políticos e sociais – influência de Monteiro Lobato-, além de suas posições em defesa da causa da mulher.

Postura crítica em defesa da liberdade mantida, inclusive, diante das muitas dificuldades enfrentadas pelo país durante o difícil período da Ditadura Militar. Ruth valia-se de metáforas, como aquela do rei que não sabia de nada e confiou o reino aos burocratas, ou, aquela, na qual o rei que não gostava de verdades mandou trancar todas elas no porão, dentre muitas outras, para continuar escrevendo.

Uma História de Rabos Presos, livro que Ruth lançou em Brasília, no Congresso Nacional (1989), caracterizava-se por forte conteúdo crítico. Nesse mesmo ano recebeu da Organização das Nações Unidas (ONU), convite para escrever uma Declaração Universal dos Direitos Humanos para crianças, intitulada Iguais e Livre, e publicada em nove línguas. Em 1990 retornou à sede da ONU, em Nova Iorque, para o lançamento do livro “Azul e Lindo – Planeta Terra Nossa Casa.

Mulher atuante, ao lado dos livros que publicava participou ainda, durante seis anos, da mesa de debates do programa de televisão Gazeta Meio-Dia e, em várias editoras atuou como editora de revistas e organizou coleções voltadas para o público infantil. Isso, claro, sem abrir mão de cantar jazz algumas noites, como distração. Aliás, gosto pela música, confessou Ruth em entrevista, herdado da avó Neném que, inclusive, certa vez, a levou quando criança para cantar em uma rádio.

Ruth, que com a obra Marcelo, Marmelo, Martelo emplacou mais de um milhão de copias recebeu, dentre outros, importantes prêmios brasileiros destinados à literatura infantil e juvenil, concedidos pela Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, da Câmara Brasileira do Livro, cinco Prêmios “Jabuti”, da Associação Paulista de Críticos de Arte e da Academia Brasileira de Letras e o Prêmio João de Barro, da Prefeitura de Belo Horizonte.

Em 1998 recebeu do presidente Fernando Henrique Cardoso a Comenda da Ordem do Mérito Cultural do Ministério da Cultura. Em 2002 ganhou o prêmio Moinho Santista de Literatura Infantil, da Fundação Bunge e foi escolhida como membro do PEN CLUB – Associação Mundial de Escritores no Rio de Janeiro.

Uma de suas grandes alegrias foi ter publicado (1999) sua adaptação de Odisséia, de Homero, para crianças, ilustrada pelo marido Eduardo, com quem tem uma filha e dois netos.

Atualmente é membro do Conselho Curador da Fundação Padre Anchieta.

 

Aristolina Queiroz de Almeida (1922 – )

Aristolina Queiroz de Almeida (1922 – )
Primeira Prefeita do Estado do Rio de Janeiro

Aristolina Queiroz de Almeida, nasceu no dia 22 de setembro de 1922, em Sacra Família do Tinguá,, no estado do Rio de Janeiro. Ainda menina mudou-se com seus pais, Maria Batista e Artur Monteiro de Queiroz para o município de Miguel Pereira, onde vive até hoje. No terceiro melhor clima do mundo, as eleições de 1970, consagram a primeira mulher prefeita do município e do estado. Aristolina Queiroz de Almeida tinha então 48 anos e uma trajetória de envolvimento com as causas sociais iniciada aos 14 anos, ao formar-se professora.

No período de 1941 a 1956, ao lado do esposo, Corinto de Almeida, com quem casara em 1939 e teve quatro filhos, envolveu-se em várias campanhas políticas. A respeito desse envolvimento, que ocorria simultaneamente ao trabalho de professora, dona de casa e auxiliar dos cortes de cabelo feitos pelo marido barbeiro no salão, Aristolina declararia, anos depois, ser uma tentativa de minimizar as dificuldades vividas pelas pessoas humildes de sua região, bem como, pela ausência de escolas o que, inclusive, a obrigou a mandar os filhos e a filha estudarem fora da cidade.

Suas lutas em defesa da emancipação do município, quando assumiu posição contrária ao pai, trouxeram resultados em 1955, quando Miguel Pereira se tornou independente do município de Vassouras (RJ).

Eleita vereadora em 1956, não conseguiu o cargo de prefeita nas eleições de 1958, mas reelegeu-se vereadora novamente em 1962 e 1967, ocasião em que acumulou também a função de Secretária de Educação.

Com sua eleição em 1971, a cidade optava pelo matriarcado e, após dois dias de animada comemoração, entregava mais uma responsabilidade às mulheres. A prefeita juntou-se ao time feminino que estava no poder: a Promotora, a Escrivã eleitoral, a chefe comercial da Light, a chefe dos Correios e Telégrafos e a coordenadora do INPS. Contudo, apesar desse pioneirismo de Miguel Pereira, conhecida como "Cidade das Rosas", nem tudo foram flores para Aristolina.

Dois meses após sua posse enviou carta à Câmara Municipal, relatando a difícil situação na qual encontrara a prefeitura. As dívidas comprometiam quase 40% do orçamento, contrariamente ao que era alardeado pela gestão anterior e, ao solicitar a criação de comissões de investigação, para analise dessa e de outras questões, enfrentou dura reação da oposição. Na ocasião foi acusada, inclusive, de tentar “conspirar” contra as autoridades políticas masculinas.

Sua gestão, entre 1971 e 1973, destacou-se em várias frentes – turismo, cultura, construção de escolas, arborização, iluminação, saneamento, recuperação de estradas, transporte, saúde e administração pública. Dentre outras ações, junto ao Governo Federal, conseguiu a vinda de um técnico, que realizou um levantamento dos mananciais da cidade, resultando em projeto para o novo sistema de abastecimento. Com apoio do Centro de Pesquisa Latino-Americano de Ciências Sociais, através do Instituto do Livro, desenvolveu cursos de formação e ampliou o acervo da biblioteca municipal. A criação do Serviço Social na prefeitura também caracteriza sua atuação.

A organização do Primeiro Festival de Cinema Brasileiro (1971), em comemoração aos 16 anos da cidade, com júri composto unicamente por mulheres era, na verdade, uma prévia do que Aristolina planejava para Miguel Pereira um ano depois: O Primeiro Congresso Nacional Feminino.

Durante três dias, questões relacionadas à situação da mulher e emancipação feminina foram discutidas por cerca de 200 mulheres no chamado Primeiro Congresso Nacional Feminino, em 1972, além de ampla repercussão na imprensa nacional, caracterizou-se ainda, segundo a revista TIME, por ser o primeiro encontro do gênero na América Latina. A iniciativa deu frutos e outros encontros se seguiram pelo país.

Dentre as muitas homenagens que lhe foram feitas, Aristolina Queiroz recebeu em 2003, a Medalha Tiradentes concedida pela Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro. 

Anita Leocádia Prestes (1936 – )

Anita Leocádia Prestes (1936 – )
Militante Política e Historiadora

Anita Leocádia Prestes, filha do líder comunista Luiz Carlos Prestes e Olga Benário Prestes, nasceu no dia 27 de novembro de 1936, em Barnimstrasse, prisão destinada às mulheres na Alemanha Nazista, para onde sua mãe, judia alemã e comunista, foi levada após ser deportada do Brasil, por Getúlio Vargas, aos sete meses de gravidez.

Da companhia materna desfrutou apenas até os catorze meses quando a avó, Leocádia Prestes, conseguiu resgatá-la, após intensa campanha internacional. Foi então com a avó e a tia Lygia, a quem considera como segunda mãe, para o exílio no México. Olga Benário morreria em abril de 1942, assassinada em uma câmara de gás, no campo da morte de Bernburg. Como lembranças da mãe, apenas algumas poucas cartas, escritas do cativeiro ao marido Prestes, falando sobre a imensa alegria que a filha com seus olhos azuis brilhantes lhe dava e reafirmando a esperança que fosse uma menina feliz e sempre orgulhosa da luta dos pais.

Em 1945, após o fim do Estado Novo, então aos nove anos, Anita chegou ao Brasil e pode, finalmente, conhecer o pai, liberto após nove anos de prisão, na qual permaneceu praticamente incomunicável. Mesma oportunidade não teve a avó Leocádia, que em 1942 falece no exílio.

Sempre que indagada a respeito das tragédias que marcaram seu nascimento e infância, Anita destaca que, ao contrario de uma pessoa amarga e descrente da humanidade, o exemplo de seus pais, bem como, a criação recebida no interior de uma família comunista, a forjaram uma mulher forte, que acredita valer a pena lutar por um mundo melhor e jamais compactuar com a injustiça.
Professora doutora do Departamento de História do Brasil na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e historiadora, Anita iniciou sua trajetória acadêmica no Brasil, onde concluiu a graduação em Química Industrial (1964) e, no período da ditadura militar, obteve o titulo de Mestre em Química Orgânica (1966).
Perseguida pelo regime militar e indiciada por subversão (1972), foi condenada e julgada à revelia, sendo condenada a quatro anos e meio de detenção. Escapou da prisão por haver se exilado, no inicio dos anos 1970, na extinta União Soviética (URSS), onde recebeu o título de doutora em Economia e Filosofia pelo Instituto de Ciências Sociais de Moscou (1975). Foi Anistiada em 1979, como conseqüência da primeira Lei de Anistia no Brasil.
Em 1990 recebeu o título de Doutora em História Social pela Universidade Federal Fluminense (UFF), tornando-se por concurso público, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (1992), até aposentar-se em 2007.

Em 2004 abriu mão de indenização de R$ 100 mil (cem mil reais), concedida pela Comissão de Anistia do Ministério da Justiça, referentes ao tempo em que permaneceu exilada, doando-a a uma instituição de combate ao câncer. Anita optou por permanecer apenas, com o direito de incorporar o período ao tempo de aposentadoria. Reação semelhante manifestou diante da indenização concedida a seu pai, Luiz Carlos Prestes, recusando a parte que lhe caberia como filha.

Historiadora, palestrante no Brasil e no exterior, Anita organizou (2004) na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro, uma exposição em homenagem aos 80 anos da Coluna Prestes. Na ocasião relatou haver tido a oportunidade de apresentar ao pai, falecido em 1990, sua tese de doutorado sobre esse movimento histórico.

Quatro anos depois (2008), participou das homenagens de 24 anos da Galeria Olga Benário, em Berlim, criada pela Associação dos Perseguidos pelo Regime Nazista e que comemorava o centenário de nascimento de sua mãe. Anita inaugurou a “pedra de tropeço”, placa colocada na calçada dos locais onde moraram vítimas do holocausto.

Autora de diversos livros e premiada em Cuba pela publicação de A Coluna Prestes, Anita segue na defesa da liberdade e no resgate de parte da historia do país. Justamente essa esperança no futuro foi o que, comenta-se, teria sentido falta após assistir à cena de execução de sua mãe na câmara de gás, retratada no filme Olga. Para Anita, não se conseguiu transmitir ali, a mensagem que a esperança persiste e que, apesar dos acontecimentos, a luta dos pais trouxe vitórias.

 

Militana Salustino do Nascimento

Militana Salustino do Nascimento – (1925-2010).
Romanceira

Militana Salustino do Nascimento, ou melhor, Dona Militana, como é popularmente conhecida no Rio Grande do Norte, nasceu em 19 de março de 1925 no sítio Oiteiros, comunidade de Santo Antônio dos Barreiros.

Dona Militana, considerada uma das maiores romanceiras do Brasil, herdou de seu pai Atanásio Salustino do Nascimento, um mestre dos Fandangos, o dom de versar. Suas cantigas entoavam versos originários de uma cultura medieval, cujos personagens eram reis e rainhas. Dona Militana guardou na memória o repertório de seu pai e através da oralidade perpassou este saber popular, contribuindo para construção do patrimônio cultural do Rio Grande do Norte.

Em 2005 foi agraciada com a Medalha de Ordem ao Mérito Cultural do Ministério da Cultura. Considerada uma guardiã da cultura popular, em 2007, foi incluída no livro Mulheres Negras do Brasil, das editoras SENAC e Redeh.

Faleceu em 19 de junho de 2010, deixando um importante legado para a população de São Gonçalo do Amarante – RN, onde vivia.

Zilda Arns Neumann (1934 – 2010)

Zilda Arns Neumann (1934-2010)
Médica pediatra e sanitarista, fundadora e coordenadora da Pastoral da Criança

Zilda Arns nasceu no dia 25 de agosto de 1934, em Forquilhinha (SC). Filha de Gabriel Arns e Helena Steiner Arns. e irmã de Dom Paulo Evaristo Arns, cardeal arcebispo emérito de São Paulo.

Concluiu a faculdade de medicina, em 1959, na sua terra natal, mas não parou por aí. Resolveu mudar-se Curitiba, onde fez vários cursos complementares em pediatria social, educação física, dentre outros. Atenta as necessidades que demandavam sua escolha profissional, especializou-se em saúde pública pela Universidade de São Paulo (USP), em pediatria social em Medellín (Colômbia) e Administração de Programas de Saúde Materno-Infantil, pela Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS/OMS). A escolha da medicina enquanto profissão transformou-se em missão e neste processo percebeu que desenvolveria melhor seus trabalhos atuando na saúde pública.

Começa sua vida profissional como Médica Pediatra. Atuou no Hospital de Crianças Cezar Pernetta -Curitiba/PR – entre os anos de 1955 a 1964. No ano de 1980 foi convidada a coordenar a campanha de vacinação de combate à epidemia de poliomielite no Brasil. Neste período criou um método de atuação, tão eficaz, que posteriormente foi adotado pelo Ministério da Saúde. No ano de 1983, juntamente com Dom Geraldo Majela Agnello, Cardeal Arcebispo Primaz de Salvador da Bahia, que na época era Arcebispo de Londrina, funda a entidade que sintetiza todo o esforço de sua vida em prol da assistência aos necessitados, a Pastoral da Criança da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, sendo coordenadora até o último dia de sua vida. A Pastoral da Criança tem como objetivo a assistência as crianças pobres desde a concepção até aos seis anos de idade, assim como de sua família. Tem sua atuação em ações preventivas de saúde, nutrição, educação e cidadania, mas sobretudo com o uso da metodologia comunitária de multiplicação do conhecimento e da solidariedade entre as famílias mais necessitadas.

Com sua atuação como coordenadora da Pastoral da Criança, participou de diversos eventos internacionais de Angola a Indonésia, Estados Unidos, Europa e América do Sul; a entidade representada pela Drª Zilda ganha projeção internacional. No de 2004, ela recebeu da Confederação Nacional dos Bispos de Brasil (CNBB) a missão de fundar, organizar e coordenar a Pastoral da Pessoa Idosa. Em reconhecimento ao seu trabalho, ganhou diversas condecorações, dentre elas constam o de Personalidade Brasileira de Destaque no Trabalho em Prol da Saúde da Criança (Unicef/1988); Prêmio Humanitário (Lions Club Internacional/1997); Prêmio Internacional em Administração Sanitária (OPAS/ 1994); o Opus Prize, da Opus Prize Foundation (EUA) em 2006. Também, em 2006, foi indicada ao Prêmio Nobel da Paz.

Sua dedicação em prol das crianças e dos idosos foi bruscamente interrompida, quando de uma de suas missões humanitárias no Haiti. Vitimada pelo terremoto que devastou a cidade de Porto Príncipe, no Haiti, em 13 de janeiro de 2010, Drª Zilda foi atingida por escombros caídos de uma igreja, durante uma palestra.

 

 

 

Hannette Staack (século XX)

O Jiu-Jitsu era praticado no período feudal no Japão, por nobres samurais. É nesta arte marcial, que a faixa preta Hannette Staack, fez história nos esportes feminino mundial e se transformou em um dos nossos orgulhos nacionais no ano de 2009.
A atleta negra Hannette Staack, radicada nos Estados Unidos há mais de dois anos, ganhou o prêmio da Fundação de Mulheres do Esporte – Women´s Sports Foundation, no ano de 2009. Esta conquista foi viabilizada, pela impecável participação que teve no ADCC na Califórnia. Ganhou duas lutas por finalizações no peso, o que lhe garantiu o ouro, e também, participação na competição em 2009 nas finais do peso médio.
As mulheres inicialmente dedicavam-se as artes marciais, como forma de aumentar auto-estima, autoconfiança. Porém o que era somente atividade recreativa acabou se transformando em atividade permanente e desencadeou o desejo de participação em campeonatos mundiais. E as mulheres estão fazendo bonito, fazendo história nos esportes.
Hannette além de participar em campeonatos mundiais, também tem a preocupação de treinar novas atletas, sob sua orientação as jovens atletas que se dedicam ao jiu-jitsu acalentam o sonho e a esperança de novas medalhas.

 

Mercedes Baptista (1921 – )

Mercedes Ignácia da Silva Krieger, Mercedes Batista, nasceu em 1921, no município de Campos dos Goytacazes, Rio de Janeiro, em uma família humilde que vivia do trabalho de sua mãe, a costureira Maria Ignácia da Silva. Ainda jovem, mudou-se para a cidade do Rio de Janeiro, exercendo diversas atividades profissionais. Trabalhou em uma gráfica, em fábrica de chapéus e como não podia fugir a regra de grande parte das meninas negras de seu tempo, foi empregada doméstica. Trabalhou, também, em bilheteria de cinema; quando podia, assistia aos filmes; neste período acalentava o sonho dos palcos. Mobilizada por realizar seu sonho, começou a dedicar-se a dança.
Cabe salientar que Mercedes Baptista foi iniciada no balé clássico e dança folclórica, pela grande Eros Volúsia (bailarina que abrilhantou o Brasil através de suas coreografias inspiradas na cultura brasileira). Na década de 1940 ingressou na Escola de Danças do Teatro Municipal do Rio de Janeiro, tendo a oportunidade de estudar com Yuco Lindberg e Vaslav Veltchek, artistas que possuíam projeção internacional. No ano de 1947 é admitida como bailarina profissional no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, tornando-se assim a primeira mulher negra a ingressar como bailarina nesta casa de espetáculos.
Embora fizesse parte do corpo de Baile do Teatro Municipal, teve poucas chances de atuar, pois pouquíssimas vezes foi escalada para as apresentações. Percebeu então um traço do preconceito. Enquanto mulher negra e artista sofreu discriminação, mas também aprendeu com os próprios passos e escolhas a criar mecanismos de superação. É neste mesmo período que conhece Abdias do Nascimento e passou a acompanhar os ideais do Teatro Experimental do Negro. Juntamente com as forças renovadas e ao perceber que outros negros e negras, desenvolviam formas de atuação de luta contra o racismo no Brasil, uniu forças com estes grupos, criando espaços e estratégias para lutar contra o preconceito racial.
Neste cenário, buscou formas de valorizar a cultura brasileira, assim como lutou contra o preconceito que tentava inferiorizar a população negra. Foi então, que sistematicamente trabalhou pela reafirmação do artista negro na dança; com talento, perseverança e o uso da pesquisa enquanto instrumento/ferramenta. Conseguiu magistralmente, embasar e aprofundar o conhecimento sobre as artes negras, assim entendendo e conhecendo suas origens usando-a enquanto elemento criativo, e, portanto, uma nova postura sobre a dança afro-brasileira.
Mercedes Baptista participou de diversos eventos promovidos pelo TEN, sendo, em 1948, eleita a Rainha das Mulatas. No ano de 1950, tornou-se membro do Conselho de Mulheres Negras.
Em finais da década de 1950 foi selecionada pela coreógrafa e antropóloga americana Katherine Dunham a conquistou uma bolsa de estudos em Nova York. Quando de sua volta para o Brasil, no Rio de Janeiro, funda o Ballet Folclórico Mercedes Baptista. Grupo formado por bailarinos negros que desenvolviam pesquisas e divulgava a cultura negra e afro-brasileiras, descortinando novos horizontes para a dança, introduzindo elementos afro na dança moderna brasileira. O grupo ganhou notoriedade e respeito, apresentaram-se na Europa e vários países da América do Sul.
Na década de 1960, Mercedes Baptista, teve a oportunidade de atuar no G.R.E.S Acadêmicos do Salgueiro, elaborando coreografia, para o tema O Quilombo dos Palmares, escolhido pela escola. As escolas de samba curvaram-se ao talento de Mercedes, pois foi ela quem idealizou as apresentações das escolas com alas coreografadas. E não fica por aí, coreografou para cinema, televisão e teatro.
Mercedes Baptista ministrou diversos cursos fora do Brasil – Nova York e Califórnia. Influenciou a dança em outros países, mais também teve consistência e prestígio para introduzir na Escola de Dança do Teatro Municipal do Rio de Janeiro a disciplina dança afro-brasileira.
Por sua capacidade de conciliar técnica e talento, por inovar, por sua trajetória de vida e sua importância para dança nacional, e por que não dizer mundial, no ano de 2005 recebeu uma homenagem através da exposição “Mercedes Baptista: a criação da identidade negra na dança”, com curadoria de Paulo Melgaço e Jandira Lima. Em desdobramento a exposição, no ano de 2007 foi lançado o livro Mercedes Baptista: a criação da identidade negra na dança, de autoria de Paulo Melgaço da Silva Júnior, publicado pela Fundação Cultural Palmares.
Também recebeu, em 2008, a homenagem da Escola de Samba Cubango (grupo de acesso), sendo considerado um dos sambas mais bonitos deste ano. No ano seguinte a Escola de Samba Vila Isabel, escolheu por tema o centenário da Teatro Municipal, quanto este lhe rendeu a merecida homenagem, por ser Mercedes batista uma figura emblemática da dança nacional e referência obrigatória no Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
Seu legado é a valorização das culturas de matrizes africanas e a introdução de elementos da dança afro a dança moderna brasileira, mais sobretudo o exemplo de superação e criatividade para a juventude negra, fazendo dela um dos nomes mais respeitado no Brasil nessa área.