Jenny Pimentel de Borba (1906 – 1984)

Jenny Pimentel de Borba nasceu em Serra Negra, estado de São Paulo, no dia 6 de maio de 1906. Filha de Alfredo Pires de Azevedo Pimentel e Anna Leopoldina de Freitas Pimentel, importante e conservadora família paulista. Casou-se aos 24 anos, em 1930, na cidade de São Paulo, com o gaúcho Júlio Ruy da Costa Borba, união essa que descontentou muito a família. Logo depois Jenny e Júlio mudam para a capital – Rio de Janeiro, onde viveu grande parte de sua vida.

Sem que alguém consiga explicar ao certo, Jenny deixou sua terra natal e seus familiares. Estes a criticavam muito por seu comportamento autônomo, extravagante e não condizente com o que se esperava de uma mulher naquela época.

No Rio de Janeiro, Jenny lançou a revista Walkyrias, em agosto de 1934. Esse periódico durou até dezembro de 1960, perfazendo um longo caminho de 26 anos. Walkyrias foi publicada mensalmente durante 12 anos ininterruptos. A partir de 1946 houve intervalos nas publicações – não havendo periodicidade. Esta revista foi espaço de manifestações ao movimento brasileiro de emancipação das mulheres as décadas de 1930 e 40. Embora não fosse integrante do movimento sufragista, em sua revista, Jenny disponibilizou espaço para artigos de ilustres feministas.

A revista Walkyrias foi lançada no Rio de Janeiro em 1934 algumas semanas após a mulher brasileira conquistar seu direito ao voto – acontecimento conhecido na época por “A vitória das sufragistas”. A primeira edição de Walkyrias relatava com detalhes a vitória das sufragistas, uma vez que nova Constituição Brasileira incorporava o direito de voto das mulheres, conquistado através de decreto, dois anos antes. A chamada “Festa da Vitória”; foi uma grande celebração organizada pela Federação Brasileira pelo Progresso Feminino, no Automóvel Clube no Rio de Janeiro com o intuito de comemorar a conquista definitiva do voto feminino. Com programação artística refinada dirigida pela maestrina Joanídia Sodré e presença de figuras respeitáveis da sociedade carioca e de políticos de renome. A primeira edição deu total divulgação a este acontecimento, embora sua diretora Jenny Pimentel não participasse efetivamente das lutas feministas.

A revista Walkyrias esmerava-se para contemplar a boa literatura, artes de vanguarda, artigos políticos, crônicas, poemas, conselhos médicos, etc. Dentre os artigos publicados na revista consta diversos da sufragista Bertha Luzt, poemas de Gilka Machado. Walkyrias era eclética e espaço aberto a todas as posições ideológicas.

A década de 1930 e 40 foi de efervescência cultural e de reavaliação e criação de novos valores e modelos para sociedade brasileira. Com a publicação de obras como “Casa Grande e Senzala” de Gilberto Freyre, “Evolução política do povo brasileiro” de Caio prado Júnior, dentre diversos outros ensaios que repensavam o Brasil em sua formação social, política e econômica. É neste contexto que a revista Walkyrias tem suas primeiras edições e sua editora Jenny vive seus momentos de maior brilho e notoriedade nas redações e salões do Rio de Janeiro. Figura carismática e ao mesmo tempo ambígua; brilhante e com prestígio intelectual, tinha entre seus pares escritores, políticos e artistas. Há registro de Jenny com pessoas conhecidas do cenário nacional como a sufragista Bertha Lutz, a escritora Cecília Meireles, a pioneira aviadora Anesia Pinheiro Machado, o ministro Gustavo Capanema, dentre diversas outras figuras que despontavam no cenário nacional da década de 1930. Escreveu livros como “Mendiga de amor” (1935); “40 graus à sombra” (1940); “Mormaço” (1941); “Braza” (1942) e “Paixão dos homens” (1943).

Em 1948, Jenny foi diretora artístico-social da revista Fon-Fon. Revista criada no Rio de Janeiro cuja ilustração figurava como uma de suas principais características, tendo como contribuidores célebres Di Cavalcante, assim como lançou e impulsionou a carreira de tantos outros como Nair de Tefé e Raul Pederneiras. Jenny também deu sua contribuição como chefe da seção de literatura da revista Café Society. Periódico editado de janeiro a julho de 1955.

Jenny publicou diversos contos nos jornais “Correio da Manhã” e o “Diário de Notícias, considerados naquela época, os jornais mais prestigiados do Rio de Janeiro. Apesar de controversa Jenny teve presença marcante na cultura carioca nos anos de 1930 e 40, sendo citada em diversas obras especializadas sobre literatura no Brasil, por ser referência mereceu citação e elogios em livro do crítico Wilson Martins – “História da Inteligência Brasileira”, publicado na década de 1970.

A paulista Jenny Pimentel de Borba, que não possuía nenhuma formação acadêmica lançou, dirigiu e manteve durante décadas uma revista polêmica, mas, sobretudo espaço de manifestação de diversos pensamentos políticos e culturais que deu o que falar e o que pensar nas décadas de sua existência. Seu público alvo? Todos e todas que buscavam informações sobre diversos prismas. Os últimos anos de sua vida foi em um abrigo para idosos em Friburgo junto a seu marido Ruy da Costa Borba, sua voracidade intelectual foi mantida e era sempre vista com um livro nas mãos. Faleceu, um ano e quatro meses depois do seu companheiro, em 30 de junho de 1984, e sepultada na cidade de Friburgo, pela LBA.

 

Gabriela Leite (século XX)

A paulista Gabriela Leite é socióloga formada pela Universidade de São Paulo (USP) e durante muitos anos ganhou a vida como prostituta. Trabalhou na Boca do Lixo, região caracterizada por ser uma zona de meretrício, localizado na região central de São Paulo, perto do Bairro da Luz e depois na Vila Mimosa, considerada uma das mais famosas áreas de prostituição da cidade do Rio de Janeiro. Nos anos de 1980 transferiu-se para a zona boêmia de Belo Horizonte, Minas Gerais.

Gabriela tinha 22 anos quando resolveu ser prostituta. Isto aconteceu por volta dos anos 1970, enquanto cursava a faculdade de Filosofia na Universidade de São Paulo (curso para o qual havia passado em segundo lugar). Nesta época tinha um emprego de secretária e morava com a mãe. Porém, inquietava-se com a vida que levava. Entre interessada e curiosa observava as prostitutas que trabalhavam nos arredores da faculdade. Movida por esta atração e o desejo de mudança optou em ser prostituta do baixo meretrício paulista.

De volta ao Rio, em 1992, Gabriela fundou a Ong Davida – organização que tem por objetivo promover a cidadania das prostitutas, romper com os estereótipos, promover políticas públicas para categoria, obter o reconhecimento legal da profissão, conquistar melhores condições de trabalho e qualidade de vida para as profissionais do sexo, dentre outras iniciativas. Esta organização, a partir de concepções idealizadas por Gabriela, defende a idéia de que não se deve tratar a prostituição apenas como falta de opção para as mulheres em situação de pobreza. A organização atua na área da educação, saúde, comunicação e cultura. Seu slogan é Prostituição, direitos civis, saúde. Deve-se acrescentar que Gabriela também está à frente da Rede Latino-Caribenha de Trabalhadoras do Sexo (Retrasex).

Conciliando estratégia de marketing e busca de autonomia econômica, Gabriela no ano de 2005 idealizou a grife Daspu (uma corruptela de “Das Putas”) – nome este escolhido como provação a grife Daslu, considerada a maior loja de artigos de luxo do Brasil.
Gabriela lançou no início de 2009 o livro Filha, mãe, avó e puta: a história de uma mulher que decidiu ser prostituta profissional. Revela nesta obra autobiográfica, sua trajetória de vida como prostituta – desvenda, revela o mundo da prostituição. Aborda com clareza e naturalidade os diversos tabus da profissão. Narra histórias curiosas sobre seus clientes, as drogas, a figura do cafetão, dentre diversos outros elementos existentes deste universo.

Gabriela, ferrenha defensora da liberdade é conhecida e respeitada por falar o que pensa. É esta mulher que hoje é a porta-voz das prostitutas. Atuando na Ong Davida, reivindica respeito e direitos. Desvela os tabus que aguçam o imaginário coletivo em torno de uma das profissões mais antigas da humanidade. Pensa a prostituição enquanto profissão e como tal levanta as questões relacionadas aos direitos e deveres das empregadas e empregadores.

Atualmente Gabriela está casada com o jornalista Flavio Lenz, irmão da poeta Ana Cristina César.

 

Elisa Lucinda (1958 – )

Elisa Lucinda nasceu na cidade de Vitória, Espírito Santo, em 02 de fevereiro de 1958. Desde menina recitava poesias nas festas e acalentava o sonho de ser atriz. Neste período a mãe a matriculou no curso de interpretação teatral da poesia, de onde somente saio para estudar curso superior. Formou-se em jornalismo, em 1982, e começou a exercer a profissão como repórter e apresentadora de TV em Vitória; mas seus desejos de menina a conduziriam a trilhar outros caminhos. No ano de 1986 mudou-se para cidade do Rio de Janeiro, com planos de seguir a carreira de atriz. Firme em seu propósito ingressou no Curso de Interpretação Teatral da Casa de Artes de Laranjeiras (CAL). Trabalhou nas peças “Rosa, um Musical Brasileiro” (direção de Domingos de Oliveira), e Bukowski, Bicho Solto no Mundo (direção de Ticiana Studart).

Sensível e talentosa dedicou-se a apresentações teatrais em formato de saraus poéticos. Brilhou nos espetáculos O Semelhante e Euteamo – ambos declamando poemas de sua autoria. Sua paixão pela poesia a motivou a criar no Rio de Janeiro uma associação de estudo de declamação que promove saraus – Escola Lucinda de Poesia Viva. Seu grande sucesso do teatro é a peça Parem de falar mal da rotina.

O primeiro trabalho de Elisa Lucinda em televisão foi na novela Kananga do Japão, no ano de 1989 na extinta Rede Manchete. Atuou nas novelas Mulheres Apaixonadas e Páginas da Vida, ambas de Manoel Carlos, exibida na Rede Globo, entre outras telenovelas. Neste período já era famosa por seus poemas e a forma singular de declamá-los.

Elisa Lucinda também brilha no cinema nacional. No final dos anos 1980 participou do curta metragem Referência. Sua estréia em longa-metragem foi no ano de 1990 no filme Barrela: escola de crimes; depois atuou em A causa secreta (1994); O testamento do senhor Nepumoceno (1997); A morte de mulata (2001); Seja o que Deus quiser (2002); Gregório de Mattos e As alegres comadres (ambos em 2003). No Distrito Federal no ano de 1989 ganhou o Troféu Candango, como Atriz Revelação no Festival de Cinema Brasileiro e em 1990 no Rio de Janeiro o Troféu Sol de Prata, como melhor atriz no Rio Cine Festival.
Como escritora publicou os livros Aviso da Lua que menstrua; A Menina Transparente; O Semelhante; Coleção amigo Oculto; entre outros. Dona de uma trajetória vitoriosa, Elisa Lucinda é considerada uma das mais expressiva artista brasileira da atualidade.
 

Ana Arruda Callado (1932 – )

Ana Arruda Callado nasceu em Recife, Pernambuco, em 1937. Mudou-se com a família para o Rio de Janeiro, aos 8 anos de idade. Os livros sempre fizeram parte de sua vida. O pai estimulava os filhos aos estudos e a leitura. Guarda em sua memória afetiva a lembrança de que todas as noites via seu genitor com um livro na mão. Costumava incentivar as filhas a escolher uma carreira em que pudessem ter suas realizações profissionais e ao mesmo tempo autonomia financeira. Não queria vê-las sustentadas pelo marido.

Embora inicialmente discordasse da escolha de Ana pelo jornalismo, acabou mais tarde por respeitar a decisão da filha. Em 1955, ela entrou para Faculdade Nacional de Filosofia (atualmente Universidade Federal do Rio de Janeiro) e preocupada com uma boa formação profissional buscou, paralelamente ao curso na Universidade, o aprendizado pratico. E assim, foi ser estagiária no Jornal Tribuna da Imprensa, tendo a oportunidade de fazer um curso com Carlos Lacerda, dedicado aos profissionais que atuavam na redação.

Com determinação e muito estudo, concluiu o curso de jornalismo em 03 anos, em 1957, e, em seguida iniciou atividade profissional no Jornal do Brasil. Inteligente e perspicaz soube criar oportunidades e aproveitar com sabedoria o convívio com jornalistas mais experientes e de renome nacional.

Com pouco tempo atuando no Jornal do Brasil, mas sensibilizada por questões sociais ganhou o Prêmio Herbert Moses , em 1958, por ter escrito uma série de reportagens sobre reforma agrária – “Reforma Agrária: todo mundo fala, mas ninguém faz”. No ano seguinte, escreveu série de reportagens sobre infância abandonada o que lhe valeu a Menção Honrosa do Prêmio Esso, dividindo o palco com intelectuais como Helio Silva, da Tribuna da Imprensa; David Nasser, de O Cruzeiro; Mario Morel, de O Mundo Ilustrado; Bernardino Carvalho, de O Globo. Surgia, portanto, um talento precoce.

Em 1966 é convidada a atuar no Diário Carioca como chefe de reportagem. Era a primeira vez no Brasil que uma mulher exercia um cargo desta importância para o jornalismo. Foi editora-chefe de O Sol, jornal pioneiro na imprensa alternativa brasileira.

A década de 1970 desponta como referência em sua vida acadêmica e particular. Doutora em Comunicação Social pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, Ana atua como professora da Escola de Comunicação da UFRJ, assim como na Universidade Federal Fluminense e na Pontifica Universidade Católica do Rio de Janeiro. No âmbito privado, em 1977, oficializa a relação afetiva com o jornalista, romancista, biógrafo e teatrólogo Antônio Callado. Ficam casados durante 20 anos, até 1997, quando Callado veio a falecer.

Em sua vida profissional também se dedica a livros biográficos: Dona Maria José (1995), sobre Maria José Barboza Lima; Jenny, amazona, valquíria e vitória-régia (1996), sobre a romancista e jornalista Jenny Pimental Borba; a poetisa, jornalista e política Adalgisa Nery (1999) e Maria Martins (2004).

Em 1992, é convidada por um grupo de intelectuais ligadas ao feminismo, para fazer a coordenação editorial da Revista Estudos Feministas, um periódico interdisciplinar de circulação nacional e internacional que apresenta reflexões teóricas e debates acadêmicos qualificados no campo dos estudos feministas e de gênero.

Ana Arruda Callado é referência no jornalismo brasileiro. Com muita determinação e trabalho, atingiu espaços, que até então as mulheres não havia alcançado. Foi a primeira chefe de reportagem no Brasil e primeira jornalista a ganhar o Prêmio Esso.

 

 

Cassandra Rios (1932 – )

Cassandra Rios era o pseudônimo de Odete Rios. Nasceu no bairro Perdizes em São Paulo em 1932. Cassandra é considerada a pioneira da literatura lésbica no Brasil. Embora perseguida pela censura, foi uma das autoras que mais vendeu livro entre as décadas de 1950 e 70. Suas obras, embora satanizada por alguns seguimentos da sociedade e criticada por intelectuais, chegou a vender por ano 300 mil exemplares. O que era considerado número surpreendente para a época. Esta cifra leva a supor que tenha transcendido ao público lésbico e feminino.

Sua estréia na literatura foi com o livro “Volúpia do pecada” no ano de 1948, então com apenas 16 anos de idade. Sem recursos próprios, sua mãe lhe emprestou o dinheiro para publicação. Esta obra lhe rendeu o pioneirismo de ser considerado primeiro romance de temática lésbica a alcançar repercussão nacional e a colocou como uma das autoras que mais vendeu livros na história da literatura brasileira.

Escreveu em torno de 40 livros, dentre eles: Carne em delírio, Nicoletta Ninfeta, Crime de honra, Uma mulher diferente, A lua escondida, As traças, A tara, Tessa a gata, A paranóica, Breve história de Fábia e MezzAmaro. Todos com altos índices de vendagem. Seus livros eram lidos as escondidas. Quanto mais era censurada, mais despertava curiosidade pelo prazer do proibido, pelo prazer da leitura e pelo prazer da descoberta.

Seus livros misturavam alquimicamente, relações lésbicas, transformismo, sincretismo religioso, política, relações de poder, desejo feminino, negócios e religião. Suas obras transbordam vida. Em um período em que o prazer feminino não era considerado um direito, ousou desvelar e revela-los de forma aberta e sem falsos pudores. Talvez por isto tenha sido perseguida e tão censurada.

Uma das características da narrativa de Cassandra é o fato de suas personagens refletirem sobre si, sobre a identidade lésbica com todas as suas contradições. Tendo em vista que essa identidade está inserida em uma rede de discursos, Cassandra disputava sobretudo a construção desta identidade. Suas obras sinalizam para uma mudança de comportamento; apresentava um quadro de seu tempo, ao mesmo tempo em que, introduzia elementos de uma transformação histórica.

Os livros de Cassandra surgiram em um cenário, pouco propício para este tipo de discussão. Ao abordar desejo e prazer entre mulheres, o erotismo, os conflitos internos advindo desta experiência e das cobranças que a sociedade impingia, revelou um universo que era silenciado. Essa ousadia lhe valeu perseguições tanto dos que apoiavam a ditadura quanto dos que a combatiam, mas, sobretudo lhe valeu um estrondoso sucesso editorial; tendo suas publicações disputadas nas livrarias durante quase 30 anos.

Os títulos de seus livros eram uma atração a parte: chamativos e insinuantes. Suas obras literalmente seduziam um número expressivo de leitores, porém foi ignorada pela crítica por ser considerada pornográfica e por seu estilo popular. Seus textos eram considerados marginais. Eram lidos as escondidas. A forma como a homossexualidade era tratada antes das obras de Cassandra era limitada ao pecado, patologia e o crime. Muito embora, estes elementos também fizessem parte de suas obras, ocupavam outra categoria analítica; eram apresentados como forma de preconceito, que suas personagens enfrentavam ao escolher viver sua sexualidade.

Cassandra rompeu padrões ao apresenta-se de smoking em diversas festas onde compareciam governadores e figuras de renome no cenário político e cultural. Também era frequentemente convidada a participar de diversos programas de TV.

Seus primeiros romances adaptados para o cinema foram “A paranóica” sob o título de “Ariella” (considerado sucesso de bilheteria) e “Tessa, a gata” ambos, dirigidos por John Herbert. Outro romance adaptado para o cinema foi “A mulher, serpente e a flor” – com roteiro de Benedito Ruy Barbosa e dirigido por J. Marreco.
Nos anos 1980, Cassandra continuava a escrever, porém não atinge o sucesso anterior. Tentou carreira política, mas não conseguiu se eleger. No final da vida trabalhava como revisora de livros e dedicava-se a pintura.

Curiosamente no dia 8 de março de 2002 – Dia Internacional da Mulher – Morreu Cassandra Rios, a mulher que era considerada a mais polêmica escritora brasileira. Faleceu de câncer, aos 70 anos de idade, pouco antes de lançar oficialmente sua autobiografia: “Mezzamaro, flores e cassis”, onde revela alguns insultos que recebidos ao longo de sua trajetória de escritora: “demônio das letras, “papisa do homossexualismo”, “uma dama de capa e espada”. Mas revela, sobretudo, o fascínio e o medo que exercia sobre seus leitores e críticos.
 

Márcia Mágno (século XX)

Márcia Mágno nasceu em Salvador, Bahia, porém foi no Rio de Janeiro onde teve sua formação escolar e artística. Freqüentou a Faculdade de Filosofia, a Escola Normal de Belas Artes e o Curso de Artes Decorativas. Voltou para Salvador e ingressou na Escola de Belas Artes da UFBA; instituição onde foi professora assistente de Juarez Paraíso e, posteriormente, mestra de Desenho de Modelo Vivo, Modelagem, Gravura e Arte Mural, tornando-se, em 1988, diretora da escola. Desbravou novos horizontes durante sua gestão onde implantou os cursos de Desenho Industrial, o Curso Superior de Decoração e o Mestrado em Artes.

Além do trabalho institucional atuou em outras esferas. Foi professora das célebres Oficinas de Arte em Série do Museu de Arte Moderna da Bahia entre os anos de 1980 a 1988 e responsável pela criação do Salão Nacional de Arte Fotográfica da Bahia. De 1992 a 1996, foi Coordenadora da Galeria Canizares.

Márcia Mágno agrega muitas atividades: Artista plástica, professora, decoradora, além de participar de várias mostras nacionais e internacionais, participa de exposições individuais e coletivas. Por seu talento, trajetória inovadora é hoje muito respeitada pelos especialistas da área. Artista de obras diversificadas tem se destacado na produção de diversas peças personalizadas. Materializando através de suas esculturas, figuras emblemáticas do cenário político e cultural foi convidada a forjar a figura de Zumbi dos Palmares. A estátua foi inaugurada a 30 de maio de 2008, na Praça da Sé, em Salvador, Bahia. Com esta obra cria pela primeira vez a identidade física do herói nacional Zumbi. Para a concretude dessa experiência contou com a parceria entre poder público municipal e a sociedade civil, através da ONG Mulherada, com recursos do Ministério da Cultura.

Criteriosa e ciente da importância de Zumbi para a história de resistência dos negros no Brasil, antes de “colocar a mão na massa”, imergiu na biografia do líder negro buscando conhecer, através dos documentos, todo universo das simbologias em torno de Zumbi e conseguiu com maestria materializar a imagem do guerreiro que liderou o maior quilombo do Brasil – O Quilombo de Palmares na Serra da Barriga em Alagoas.
A estátua de Zumbi apresenta o líder de corpo inteiro. É considerada a primeira deste porte no país, tendo em vista que em outros estados brasileiros existem apenas bustos. Literalmente forja uma imagem positiva para o herói negro; caracterizado pelas lutas de resistência em prol da liberdade e dignidade de sua gente. Com esta Marcia solidifica sua carreira, pois com muito talento e, sobretudo sensibilidade, conseguiu captar todas estas demandas em torno da figura de Zumbi; onde resgata a magia, adentra na subjetividade e materializa o elemento político que ele representa.
 

Lygia da Veiga Pereira (século XX)

Lygia Pereira nasceu na cidade do Rio de Janeiro. Influenciada pelo avô, o editor José Olympio, ainda menina, interessou-se pela literatura, concorrendo a um concurso literário para escritores infanto-juvenis, chegando a ganhar o primeiro prêmio. Quando cursava o ensino médio viu-se mobilizada pela biologia, porém somente na graduação resolveu seguir a carreira de bióloga.

Em 1988 conclui o bacharelado em física pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, dois anos depois, o mestrado em Ciências Biológicas (biofísica) pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e, em 1994, o phd em genética molecular pelo Mount Sinai Medical Center de Nova York.

Atualmente é professora do departamento de biociência da USP. Seus projetos de pesquisas são na área de manipulação de genoma, análise molecular de doenças, pesquisas com células tronco embrionárias, etc.. Lygia é considerada uma das maiores especialistas do Brasil em células tronco. No início de 2009 ganhou o prêmio de jornalismo Faz a Diferença, do jornal o Globo – por ter se destacado no ano anterior no grupo que desenvolveu a primeira linhagem 100% nacional de células embrionárias humanas.

A pesquisa genética é uma das fortes marcas do século XX, e desponta como objeto de interesse dos países desenvolvidos assim como aqueles em processo de desenvolvimento. Este despertar do Brasil para ciência, deve-se a dedicação de alguns cientistas brasileiros, sua perseverança e insistência no trabalho em prol de um avanço maior neste setor. Neste sentido podemos citar o espetacular trabalho da geneticista Lygia Pereira, pois foi sob sua coordenação, que pela primeira vez no Brasil, foi possível remover células tronco de um embrião e desenvolver a técnica de fazer com que elas se multiplicassem in vitro.

Para além da grande importância de Lygia para efetivação de pesquisas de relevância para o mundo da ciência, a biocientista também fez com que determinados temas, que viviam enclausurados em laboratórios de especialistas, se tornasse interessante e palatável para o grande público. Além de participar de programas de TV e diversos chats também escreveu dois livros de divulgação científica: Sequenciaram o Genoma Humano… E Agora? e Clonagem: da Ovelha Dollly às Células-Tronco.

Graças a relevância do assunto, mas sobretudo ao trabalho de profissionais com Lygia Pereira, a genética está nos debates populares, pautou as discussões sobre ética e ciência, assim como seus desdobramentos sociais. Lygia, sobretudo, contribui para despertar o olhar de uma juventude interessada em ciência, em biociência e o anseio de trabalhar nessa área. O Brasil hoje é vanguarda, graças a iniciativa de especialista como Lygia que não mediu esforços e dedicação.
 

Beatriz Milhazes (1960 – )

Beatriz Ferreira Milhazes nasceu no Rio de Janeiro em 1960. Em 1981 formou-se em Comunicação Social pela Faculdade Hélio Alonso. Antes mesmo de concluir o curso de comunicadora social, em 1980, passou a frequentar artes plásticas na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, onde, alguns anos depois, passou a lecionar e coordenar atividades culturais.

Beatriz faz parte do grupo de artistas conhecidos como a Geração 80. Artistas plásticos que despontaram após a exposição no Parque Lage na década de 1980, intitulada Como Vai você, Geração 80, por terem resgatado a técnica tradicional do uso do óleo sobre tela. Para além deste resgate, Beatriz trouxe novos elementos e inventou novas formas de trabalhar a pintura. Desenvolveu técnica que consiste na aplicação de pintura sobre pedaços de plásticos, sobrepondo uma camada sobre a outra, e desta forma passando a imagem gradualmente para tela. Em seus ateliês – espaço de criação e experimentos-, quando julga pertinente, os mesmos pedaços de plásticos são usados durante longo período. O que lhe permite misturar vestígios de uma forma em diversas telas distintas.

Em 1995, Beatriz resolve fazer um curso com os artistas Solange Oliveira e Valério Rodrigues, espaço de efervescência cultural, procurado pelos talentos que despontavam e se firmavam nessa década. E assim a artista fluminense ganha destaque em mostras internacionais nos Estados Unidos, passando a integrar acervos de museus como MOMA, Guggenheim e Metropolitan, em Nova York, entre outros.

Ao imergir na vida profissional desta artista, algumas características despontam: metódica, disciplinada, concentrada. Características estas que associada a técnica e genialidade resultaram em maturidade que lhe permitiu ter ciência de sua capacidade e equilíbrio nas escolhas e incursões artísticas.

Sua primeira exposição internacional foi em Caracas (Venezuela), em 1993. Sua estrela brilha no exterior e no Brasil e nos anos de 1998 e 2004 participou da Bienal de São Paulo, em 2003, da Bienal de Veneza (Itália) e, em 2006, da Bienal de Xangai (China). Museus na Europa e Estados Unidos expõe suas obras: O Reina Sofia, em Madri e o Metropolitan Museum of Art e MOMA, em Nova Iorque.

Entre outubro de 2002 a janeiro 2003 Beatriz realizou no Rio de Janeiro no Centro Cultural Banco do Brasil a exposição Mares do Sul, porém sua grandiosa exposição no Brasil aconteceu na Pinacoteca de São Paulo no final de 2008. Ocupou a maior sala da Estação. Também realizou intervenções nas janelas do espaço, utilizando materiais translúcidos, manipulando as diversas formas de incidência de claridade sobre as janelas. Em abril de 2009, Beatriz realizou sua exposição individual de maior prestígio na Europa na Fundação Cartier, França, considerado um dos principais centros expositores de arte contemporânea do mundo.

Suas obras remetem a abstrações geométricas, ao mecanicismo. Pinta flores, arabescos, quadrados; com a presença de cores fortes, elemento estruturante de suas obras. Cria formas arredondadas, forjando sinuosidades, movimentos que remetem a sensações de vivacidade. Conduzindo o expectador a um estágio de alegrias e sensações diversas. Rompe com tradições, recria novas maneiras de apresentar, ver e sentir formas, modelos e riscos.

Artista singular teve uma de suas telas “O Mágico”, criada em 2001, vendida por mais de um milhão de dólares, equiparando-se a célebre Tarcila do Amaral com sua obra “Abapuru”. Deve-se acrescentar que esta cifra ainda não foi alcançada por nenhum, outro artista brasileiro vivo. Com o reconhecimento nacional e estrangeiro, seu trabalho passou a ser super requisitadas a ponto de existir enorme fila de espera por uma de suas obras. Apesar da pressão, não muda seu estilo e tempo para criar. Continua produzindo no máximo sete telas por ano.

Beatriz continua buscando desafios, recentemente passou a criar vitrais e intervenções mais incisivas no espaço público. Por todas as façanhas que foi capaz de realizar, Beatriz Milhazes é considerada na atualidade um dos maiores expoentes da pintura contemporânea nacional e internacional.
 

Guta (1947 – 2009)

Maria Augusta Carneiro Ribeiro, a Guta, como gostava de ser chamada, dizia haver nascido á beira da estrada. O pai engenheiro trabalhava na construção da estrada de ferro Minas-Bahia. Em 25 de fevereiro de 1947, Guta nasceu em Montes Claros (MG).
Suas origens eram, contudo, baianas e herdadas de mulheres fortes. A mãe, Maria Augusta e a bisavó atuaram em causas sociais. O pai, comunista nos tempos de estudante, só abandonou a militância após o casamento.
Ao transferir-se com a família para o Rio de Janeiro, na década de 1950, Guta foi matriculada no tradicional colégio Anglo-brasileiro, não se adaptando, entretanto, como anos depois relataria ao Projeto Memória Estudantil, em 2005, à rotina da instituição. Constatando o pouco empenho da filha, os pais a transferiram para o Colégio Santa Úrsula, administrado por freiras.
No novo colégio, Guta acabou eleita para o grêmio e passou a fazer parte da Juventude Estudantil Católica. Por esse envolvimento, na ocasião do golpe militar de 1964 foi, como dizia aos amigos/as, “convidada a se retirar” da escola. Enviada aos Estudos Unidos pela família, lá permaneceu por um ano.
O retorno ao Brasil, acompanhado da militância política, se envolveu com o grupo Dissidência Comunista. Na faculdade de Direito da Universidade Federal do Rio de Janeiro transformou-se presidente do centro acadêmico.
Por ocasião do Congresso da União Nacional dos Estudantes (UNE), em 1968, ocorrido em Ibiúna (SP), foi presa. Aliás, por duas vezes foi colocada atrás das grades. Numa dela, aos 22 anos, experimentou a tortura praticada pelos repressores da ditadura militar, na qual teve os dentes quebrados por murros e, banida do país, foi enviada ao México.
Sobre esse episódio, que envolveu a troca de prisioneiros políticos pelo embaixador americano Charles Elbrick, então sequestrado pelo MR-8, dentre os 15 algemados, Guta era a única mulher. Além da foto do grupo diante do avião da FAB, no qual embarcariam para o exílio, e que se tornou mundialmente conhecida, sobrevive a história de que caso a polícia conseguisse encontrar o cativeiro do embaixador, antes que o avião chegasse ao destino, os presos – e Guta- seriam jogados no oceano atlântico.
Após passar pelo México rumou para Cuba, onde permaneceu por dois anos realizando treinamento militar. Sua intenção, como contava anos depois, era retornar ao país e continuar combatendo a ditadura. Não conseguindo concretizar a idéia exilou-se no Chile, onde esteve até 1979, quando na condição de anistiada política retornou ao Brasil.
Consequência do passado militante foi grande a dificuldade para conseguir trabalho no Rio de Janeiro. A situação mudou apenas, quando ingressou por concurso público para a companhia Vale do Rio Doce.
Convidada para ocupar o cargo de ouvidora-geral da Petrobrás, em 2003, Guta pode retomar, agora por outros caminhos, sua luta em defesa dos direitos humanos, da política de gênero e étnica racial. E o ponto de partida foi a própria empresa, na qual ao longo de 49 anos as funcionárias eram identificadas no masculino: geólogas assinavam como geólogos, enquanto as secretárias portavam crachás onde se lia secretários. A maior mudança foi, contudo, externa. Guta e a equipe de voluntariado corporativo, por ela coordenada, implantaram e consolidaram a atuação responsável e social da gigante brasileira exploradora de petróleo. Não era raro vê-la se emocionar ao falar dessa etapa de sua vida profissional, afirmam amigos/as.
Faleceu aos 62 anos, em 15 de maio de 2009, consequência de complicações ocasionadas por um acidente de carro sofrido em abril do mesmo ano, em Búzios (RJ). Exemplo de uma vida dedicada à luta pela liberdade e democracia, Maria Augusta Carneiro, a Guta, deixa para os três filhos, parentes, amigos/as e a todos os/as brasileiros/as, um belo e respeitável exemplo feminino para construção da história democrática do país.
 

 

Raimunda Gomes da Silva (século XX)

 

Por Patrícia Negrão

A neta faz arte. A avó põe de castigo. Atrevimento no sangue, a criança responde: “Espera só meu pai chegar. Conto tudo pra ele, que é valente como você”. Valentia que não passa despercebida nem pela menina de 3 anos. Valentia que fez de Raimunda Gomes da Silva uma lutadora numa das regiões mais violentas do país, o Bico do Papagaio, ao norte de Tocantins.
Olhos marotos, sorriso fácil e coração enorme, essa maranhense torna-se uma leoa quando vê desrespeitados os direitos de qualquer minoria. Primeiro ela disse “não” ao machismo urbano. Jovem, abandonada pelo marido, trabalhou duramente em Curralinho, interior do Maranhão, onde nasceu em 1940. Era vítima de preconceito por ser “descasada e sozinha”. Recebia propostas de homens mais velhos, que prometiam casa e conforto caso ela se tornasse sua amante. Sem perder o humor, seguia na árdua lida diária para dar de comer aos seis filhos pequenos.
Aos domingos, dia de descanso, buscava conforto nas reuniões comunitária da Igreja Católica. Um dia, viu um porco dentro da Igreja. Não se conformou. “Os evangélicos tinham um lugar bonito e nós rezando naquele barracão de taipa.” Mobilizou os católicos, fez quermesse, arrecadou dinheiro, conseguiu adeptos para construir o novo espaço. “Em poucos meses, tínhamos uma igreja nova. O padre ficou feliz que não me largava mais.”
Raimunda dava aulas sobre religião e cuidados com a saúde e educação. Percebeu, então, muitas trabalhadoras rurais discriminadas e desvalorizadas em casa e no trabalho. “Eu via o sofrimento das companheiras pobres e sem estudo como eu. Sofriam as solteiras e as casadas, seus filhos e filhas, crianças como as minhas, abandonadas pelo pai.”
Raimunda, aí, estendeu o “não” para o machismo no campo. Com jeito simples e otimista de falar e rapidez no agir, ela ouvia as mulheres. E se fazia ouvir. Levantava a auto-estima de quem batesse em sua porta: mães solteiras, casadas vítimas de violência doméstica, prostitutas exploradas por gigolôs.
Despertava em Raimunda o espírito de comando e justiça que a tornaria, muitos anos depois, a “Dona Raimunda do Coco”, uma das lideranças mais carismáticas e respeitadas na luta por reforma agrária. Já recebeu muitas ameaças de morte e enfrentou policiais, fazendeiros e políticos na briga por terra. Atualmente, entre outros cargos, ela coordena em Brasília a Secretaria da Mulher Trabalhadora Rural Extrativista, que atende cerca de oito mil mulheres em oito Estados da Amazônia.
Rodou muita estrada e precisou usar muito de sua valentia até chegar lá. Em 1979, Raimunda saiu do Maranhão com os filhos pequenos e foi viver em Sete Barras, no Tocantins, onde o irmão possuía um pedaço de terra. No local moravam 52 famílias, amedrontadas e ameaçadas por grileiros. “Vi ali não somente mulheres, mas também homens sofrendo.”
Pouco tempo depois de instalada no assentamento, ela já participava de manifestações, conversava e reunia os homens e mulheres do campo. Unia-se à Pastoral da Terra e a outras lideranças e fundou, com eles, o sindicato dos Trabalhadores Rurais de São Sebastião de Tocantins. “Apesar da distância entre as comunidades, conseguimos 552 sócios.” Continuaram resistindo até que, em 1985, foram expulsos das roças por policiais. “Queimaram nossas casas e nossas plantações. Não tínhamos o que dar de comer a nossas crianças nem onde morar.”
Por pressão do sindicato, voltaram ao assentamento. Mas os conflitos aumentaram. Padre Josimo Tavares, importante aliado dos lavradores, foi assassinado. Raimunda viajou a várias capitais do país para denunciar o crime. Deu entrevistas nas principais redes de televisão, fez contato com ONGS e com políticos. Retornou para casa conhecida em todo o Brasil. As ameaças voltaram-se contra ela. Porém, um ano depois, obtiveram a posse da terra.
Mas faltava roça para muitas famílias e Raimunda continuou na briga por reforma agrária. Em 1988, participou da criação da Federação dos Trabalhadores Rurais de Tocantins. Começou também a militar pelos direitos das quebradeiras de coco babaçu. No final dos anos 1980 e início dos 1990, as agricultoras extrativistas do Pará, Maranhão, Piauí e Tocantins se organizaram em associações para lutar pela preservação do babaçual. – que estava sendo queimado pelos fazendeiros – e pelo direito legal de acesso livre nas propriedades particulares para colher coco.
Com algumas companheiras, Raimunda organizou, 1992, a Associação Regional das Mulheres Trabalhadoras Rurais do Bico do Papagaio (ASMUBIP). Começaram a promover encontros para discutir direitos – primeiro nos municípios mais próximos e, em seguida, nos estados vizinhos. Participaram, então, da fundação do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB), que atinge os quatro estados.
Comemoraram conquistas: muitas crianças hoje já não precisam quebrar mais coco, não há mais a figura do atravessador – homem que negociava o produto – e a lei proíbe a derrubada das árvores. Calcula-se que no país haja mais de dezesseis mil mulheres vivendo da venda do coco. Por sorte, entre elas há sempre as “Raimundas”: valentes, fortes e lutadoras por um país mais justo.
Eu não quero morrer matada, quero morrer na cama

Texto publicado no livro: CHARF, Clara (coord.). Brasileiras guerreiras da paz: projeto 1.000 mulheres. São Paulo: Contexto, 2006.