Margarida Genevois (século XX)

Por Patrícia Negrão

Choque elétrico, pau de arara, afogamento. Torturas bárbaras sofridas nas prisões do regime militar. Depoimentos ouvidos por Margarida Genevois na década de 1970, quando um setor da Igreja Católica abriu as portas aos perseguidos e ela foi trabalhar na Comissão Justiça e Paz da Diocese de São Paulo. Uma de suas atividades: receber pessoas que chegavam desesperadas de todo Brasil. Mães, pais, esposas, maridos à procura dos entes desaparecidos. Vítimas da repressão em busca de esconderijo e meios para deixar o país. “Muitos sentiam pudor em relatar o que tinham passado, tão terríveis e bestiais haviam sido suas experiências.”
Um mundo até então desconhecido para Margarida. Ao aceitar o convite de dom Paulo Evaristo Arns para fazer parte da Comissão Justiça e Paz, ela iniciou um trabalho que a tornaria, anos mais tarde, uma das maiores defensoras dos direitos humanos do país. Era a única mulher entre advogados e professores da Universidade de São Paulo (USP) atuando na Comissão. Os militantes da Justiça e Paz ajudavam na busca dos desaparecidos, tentavam obter proteção judicial aos presos políticos, escondiam e encaminhavam para fora do país pessoas perseguidas. Corriam risco de vida, mas não silenciavam. Denunciavam as arbitrariedades aos organismos internacionais. “Formamos um grupo unido, todos crescendo e aprendendo juntos”, recorda Margarida.
Vítimas das ditaduras da Argentina, Chile e Uruguai também chegavam à Comissão. No início, eram recebidos clandestinamente e escondidos em paróquias, conventos, igrejas. Porém, a procura por auxílio aumentou muito e a Cúria não conseguiu mais atender, sozinha, aos mais de mil refugiados que bateram à sua porta. Obtiveram, então, apoio do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) e puderam continuar a socorrer os vizinhos perseguidos.
Direitos humanos passaram a ser, para Margarida, tão fundamentais como o ar que se respira. Sufoca viver onde não estejam presentes. Restaurada a democracia no Brasil, Margarida continuou a pressionar autoridades e a delatar as injustiças contra milhares de cidadãos até hoje “asfixiados”: desempregados, camponeses sem terra, adolescentes infratores, presos em condições subumanas. “O discurso de direitos humanos é aceito na teoria, mas quando estes direitos são exigidos na prática, muitos se sentem incomodados, com medo de perder ou diminuir privilégios.”
Durante 25 anos Margarida atuou na Comissão Justiça e Paz de São Paulo, tendo assumido a presidência por três vezes. Nesse período, em caso de descumprimento dos direitos humanos ele estava presente, apoiando os perseguidos e denunciando as injustiças. Foi assim em Serra Pelada, ao lado dos garimpeiros, e no Bico do Papagaio, com os agricultores desta região ao norte do país onde foram assassinadas várias lideranças, entre elas Padre Josimo, coordenador da Comissão pastoral da Terra naquela localidade.
Margarida esteve à frente de importantes campanhas como o movimento a favor da anistia, contra a lei de Segurança nacional, contra a pena de morte, contra o Esquadrão da Morte. Testemunhou o desenterro de ossadas de desaparecidos, mortos pela repressão militar, e lutou para que as famílias recebessem informações a respeito dos falecidos.
Presenciou muitos tipos de injustiça, mas não perdeu a suavidade. Suave e firme, ela segue acreditando na transformação do ser humano. Isso desde muito cedo, quando fazia serviços voluntários nas favelas do Rio de Janeiro, cidade onde nasceu em 1923. Mais tarde, já formada em Ciências Sociais pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo e casa com um empresário bem-sucedido, foi viver em Campinas, na Fazenda São Francisco, pertencente a empresa de produtos químicos Rhodia, na qual seu marido trabalhava. Lá, indignou-se com a pobreza dos trabalhadores e, sobretudo, com a falta de recursos básicos para as crianças. Reuniu as mulheres e com elas obteve a implantação de creches, posto de puericultura e clube de mães para os trabalhadores da região em que vivia. Fundou também o Jornal Feminino, voltado para as mulheres do local.
Intensa em tudo que faz desde a juventude, viu os resultados positivos: a mortalidade infantil diminuiu no local e o posto de puericultura tornou-se um modelo em Campinas. Em 1967, já de volta a capital paulista, margarida criou com Zita Bressane o Veritas – Centro de Formação Cultural e Promoção Social, que oferecia cursos para mulheres da classe média. Convidavam intelectuais para falar sobre assuntos da atualidade, incentivando com isso uma postura democrática e humanista e maior participação delas nos diversos movimentos sociais.
Premiada e homenageada inúmera vezes, Margarida atualmente faz parte da Rede Brasileira de Educação em Direitos Humanos, um projeto nacional que ajudou a criar em 1994. Por meio de cursos elaborados a partir da pedagogia de Paulo freire oferecidos a estudantes e profissionais de todo o país, a Rede reflete e incentiva o diálogo sobre direitos humanos. “Buscamos instigar o desenvolvimento do espírito crítico e a aceitação do ‘diferente’ no outro.” Por essa entusiasta militante, não bastam lais, é preciso que cada cidadão conheça e exija seus direitos.
Direitos humanos devem ser vividos em cada gesto, em cada atitude.

Texto publicado no livro: CHARF, Clara (coord.). Brasileiras guerreiras da paz: projeto 1.000 mulheres. São Paulo: Contexto, 2006.

 

Lair Guerra de Macedo (século XX)

Por Fernanda Pompeu

Aids – síndrome da imunodeficiência adquirida – chegou matando muita gente e assustando todo o planeta. Ninguém sabia direito do que se tratava. Até que descobriram o vírus causador da epidemia: o HIV, transmitido pelo sangue e pelos fluidos sexuais. Nos anos 1980, o número de brasileiros infectados crescia em ritmo acelerado. Pelas contas do Banco Mundial, se nada fosse feito, o Brasil chegaria ao ano 2000 com mais de um milhão de pessoas portando o vírus.
Para parar a sangria de vidas eram necessárias respostas rápidas por parte do Estado. Depois de muito hesitar, em 1986, o Ministério da Saúde esboçou um nacional de combate à aids. Convidou para dirigi-lo uma doutora em Microbiologia e Infectologia. Lair Guerra de Macedo não só aceitou o enorme desafio, como entregou-se inteiramente a tarefa. O Ministério da Saúde deixou a sua disposição: uma salinha, um telefone e uma secretária.
Foi começar quase do zero. Faltava recursos materiais e humanos para fazer o programa andar. Lair Guerra não fraquejou. Pegou aviões, carros, barcos para ajudar a formar o pessoal da Saúde. Correu atrás de dinheiro no Brasil e no exterior. Como a epidemia era recente, as pessoas tinham dúvidas quanto às formas de transmissão do vírus e não acreditavam que a aids fosse uma ameaça para todos.
A diretora do programa teve de aliar conhecimento científico com estratégias políticas de comunicação. Surgiram as campanhas nacionais, de rádio, televisão, mídia impressa. As palavras aids, HIV, transmissão, preservativo, solidariedade, correram céleres pelas veias do país.
O cerne do trabalho de Lair e de sua equipe compreendia duas frentes simultâneas. Por um lado, informações e meios que ajudassem a prevenir o HIV. Pó outro lado, as buscas de solidariedade e de qualidade de vida para as pessoas infectadas. Tarefa nada simples, pois tinham de demover o preconceito, a falta de dinheiro e a burocracia da máquina estatal.
Os ponteiros do relógio eram mais lentos que a velocidade de propagação do vírus. Para não perder tempo, Lair Guerra suspendeu o hábito de almoçar, cercou-se de sanduíches e de sucos. Com empenho de horas, dias, meses conseguiu que o Ministério da Saúde fiscalizasse os Bancos de Sangue espalhados pelo país para evitar contaminação.
Verdade que ela não estava sozinha. Lair ouvia atentamente o que tinham a dizer as organizações não governamentais ligadas ao trabalho com o HIV/aids. “As ONGS foram fundamentais para a construção de políticas públicas de enfrentamento da doença e de proteção dos portadores.” A cientista nunca professou a “ciência pura”, desligada das questões humanas e sociais. “A ciência existe para favorecer o bem-estar das pessoas.”
Em 1990, com a chegada de Fernando Collor de Mello ao Planalto, Lair e o Programa Nacional de DST/AIDS sofreram um baque. Ela foi sumariamente destituída. “Saí em prantos, pois tinha certeza de que não havia concluído meu trabalho.” Dois anos depois, com as malas prontas para ensinar nos Estados Unidos, foi chamada de volta.
Agora a luta era para universalizar os medicamentos anti-retrovirais, o popular “coquetel” contra a aids. Mais uma vez, ao lado das ONGS e apoiada pela constituição – que diz ser “a saúde direito do cidadão e dever do Estado” – , Lair Guerra conseguiu que todos os que precisassem tivessem acesso gratuito aos medicamentos. O Programa, dirigido por ela, cresceu e tornou-se referência para os países pobres.
Não obstante o sucesso, ela sabia que não estavam nem na metade do caminho. Havia de formar cada vez mais profissionais de qualidade na luta contra o vírus. Havia de educar cidadãos para a solidariedade com as pessoas vivendo com HIV/aids. Em agosto de 1996, ela foi para mais uma viagem. Dessa vez, tratava-se de uma palestra no XIX Congresso Brasileiro de Infectologia, em Recife.
Foi então que o destino aprontou feio. Ao deixar o Congresso, a caminho do hotel, um ônibus avançou o semáforo e bateu de cheio no carro que a transportava. Lair Guerra, nascida em 1943, mãe de cinco filos, sofreu traumatismo craniano e passou dois meses em coma.
Nos dias atuais, o Programa Nacional DST/AIDS, arquitetado por Lair Guerra, é modelo na luta contra a doença e o preconceito. Ele coleciona elogios em todo o mundo. Em 2005, segundo números oficiais, foram 346 mil casos notificados de aids. Desse universo, todos os que necessitam tem acesso gratuito ao tratamento e à Lei de Proteção.
O estúpido desastre tirou Lair Guerra do que ela mais amava: o trabalho contra uma doença gravíssima. Hoje, ao lado do marido Florêncio, ela vive seus dias empenhada em outra luta: tenta superar as graves seqüelas do acidente. Ela tem comprometidas a locomoção, a fala e trechos da memória.
Mas não desiste. Quer escrever um livro sobre os “anos heróicos” de construção e implementação do grande programa contra a aids. O livro de Lair Guerra de Macedo pode demorar um pouco, mas, se depender de sua determinação, ainda o leremos.

Texto publicado no livro: CHARF, Clara (coord.). Brasileiras guerreiras da paz: projeto 1.000 mulheres. São Paulo: Contexto, 2006
 

 

 

 

 

Elzita Santa Cruz Oliveira (século XX)

Por Patrícia Negrão
Na casa de muita história e dignidade, onde viu os dez filhos crescerem e se tornarem gente de fibra, Elzira Santa Cruz Oliveira tem a sensação de escutar, até hoje, chamar por ela. “Velha Zita! Velha Zita! Era como o jovem fernando augusto de Santa Cruz Oliveira anunciava sua chegada à mãe. Até desaparecer, em 1974, vítima da ditadura militar.
Dona Elzita, aos 92 anos, continua com memória inabalável. Memória que a faz sorrir ao recordar os momentos alegres de uma família numerosa e unida. Memória que revolta e angustia ao reavivar os anos de um regime sem leis nem escrúpulos. Dói relembrar, mas não silencia: “Depois que perdi a esperança de encontrar Fernando, só me restou falar, para que um fato tão triste não caíssem no esquecimento”
A voz que fez ecoar Brasil afora em busca do filho está hoje mais branda, pausada. Retorna aos anos 1940. “Só comecei a viver, de verdade, quando me casei com Lincoln Santa Cruz.” Tinha 26 anos e já trazia no dedo duas alianças de uma viuvez precoce. Filha de um abastado senhor de engenho da zona da mata pernambucana, ela foi criada com luxo, “para ser esposa e mãe”. Aos 21 anos, casou-se, pela primeira vez, com um jovem político. Seis meses depois, o marido morreu de tuberculose.
Anos mais tarde, conheceu Lincoln, um médico sanitarista, diretor do Centro de Saúde de Caruaru. “Ele tinha uma visão diferente do mundo, era uma pessoa simples, um humanista”, recorda. Casaram-se e foram viver em Olinda. Ano após ano, a família ia crescendo. Em 1956, o casal comprou a casa na qual dona Elzita vive até hoje. O salário do médico era suficiente para dar boa educação aos dez filhos e encher a casa de livros. “Não havia televisão, então todos liam muito.”
À mesa também não faltava comida nem boa prosa para os muitos amigos. O verdureiro, um dos freqüentadores da casa, perguntou certa vez ao Dr. Lincoln o que era comunismo. A resposta do marido dona Elzita nunca se esqueceu: “Comunismo é como uma mesa bem grande, com todo mundo comendo junto e comendo da mesma comida”.
No controle da lida doméstica, dona Elzita mal sentiu os anos correrem. Até que com 53 anos de idade, se viu obrigada a enfrentar a dureza de prisões, quartéis, secretarias de segurança e órgãos de repressão, à procura dos filhos perseguidos. “O primeiro a ser preso foi Fernando, durante uma passeata estudantil.” Era menor de idade e passou uma semana no Juizado de menores, até que a mãe conseguiu que liberassem o rapaz. O ano era 1966. Jovens pernambucanos queimaram a bandeira dos Estados Unidos em frente a Assembléia Legislativa em protesto ao Acordo Mec-Usadque o Ministério da Educação e Cultura tentava implantar tendo como modelo o sistema de educação norte-americano. Ao receber a notícia de que o filho era um dos detidos, dona Elzita partiu para o Juizado de Menores. Lá persistiu até que soltassem Fernando.
A perseguição aos jovens Santa Cruz estava apenas começando. Tempos depois Marcelo, que cursava o quarto ano de direito e militava no Movimento Estudantil, foi cassado pelo decreto 477 e expulso da universidade. Passou um ano na Europa e retornou ao Rio de Janeiro, para onde se haviam mudado a irmã mais velha, Rosalina, e Fernando, que na época já estava casado e com um filho, Felipe.
Em 1972, Rosalina foi presa. Ao receber a notícia em Olinda, dona Elzita embarcou para o Rio. Dr. Lincoln, adoecido, ficou em Pernambuco. Foram três meses de busca, de quartel em quartel. Até que conseguiu a promessa de que iriam levá-la à filha, mas de madrugada e sozinha. No meio da noite, dona Elzita entrou em um carro blindado, entre policiais armados. Os parentes receavam que ela não voltasse. “Eles me disseram: ‘Dona Zita, não vá, a senhora vai cair no meio das cobras’. Mas por um filho, vou até para dentro do fogo.”
Ao descer do carro, em frente ao Primeiro Exército, os policiais perguntaram se ela era paraibana. “eles me acharam corajosa, porque eu estava séria, calada. Mas era medo mesmo.” Encontrou a filha com curativos e manchas no corpo. Ela disse para a mãe que havia caído. Dona Elzita sabia que eram sinais de tortura. Queriam que assinasse um papel atestando que a filha encontrava em perfeito estado. “Encontrei-a toda esbugalhada, eu não podia assinar aquilo e não assinei.”
Rosalina foi libertada em 1973. Um ano depois, em 23 de fevereiro de 1974, a família Santa Cruz foi, novamente, alvo da ditadura. No sábado de carnaval, Fernando saiu para se encontrar com um amigo, Eduardo Collier Júnior, Também militante da ação Popular. Nunca mais retornou.
Dona alzita, mais uma vez, deixou Olinda para percorrer os quartéis cariocas. Sem resultado, passou a escrever cartas e petições para políticos, militares, religiosos. Buscou ajuda de entidades nacionais e internacionais com Cruz Vermelha, anistia Internacional, Órgão dos Estados Americanos (OEA). Reuniu e encorajou outras mães – a maioria amedrontadas – a assinar manifestos. Mais tarde, memso com certeza de que o filho não voltaria , ajudou a fundar o Movimento pela Anistia em Pernambuco e o Partido dos Trabalhadores daquele estado. Foi à Argentina solidarizar-se coma as mães da praça de maio. Simboliza, hoje, todas as mães que tiveram seus filhos vítimas da opressão da ditadura militar brasileria.

 

Texto publicado no livro: CHARF, Clara (coord.). Brasileiras guerreiras da paz: projeto 1.000 mulheres. São Paulo: Contexto, 2006

 

As Gatas (Fundado em 1968)

Grupo vocal criado em 1968 pela vocalista Dinorah, que neste período já participava de corais consagrados. A formação inicial do grupo teve origem no conjunto vocal Os Rouxinóis, que participou do show de Carlos Machado em uma homenagem a Lamartine Babo, intitulado O teu cabelo não nega. Nessa época o grupo era composto por Dinorah, Zenilda e Eurídice. Posteriormente com o afastamento de Eurídice, por problemas de saúde, a composição do grupo sofreu diversas mudanças, tendo em sua formação, em momentos distintos, Marlene, Nilza, Noemi, Francinete e Zélia, porém mantendo sempre a mesma qualidade vocal. No início de sua constituição o grupo vocal participou de um concurso de músicas para o carnaval, na extinta TV Tupi, com a marcha Bloco de sujo, saindo vencedor. Fato este que aconteceria regularmente.

Grupo talentosíssimo participou e foi vencedor, como melhor intérprete, de vários festivais de música. A partir de 1969 participaram de gravações de discos como "backing vocals" de diversos artistas de renome, dentre eles Dalva de Oliveira, Emílio Santiago, Dorival Cayme, Ney Lopes, Jorge Aragão, Chico Buarque, Zeca Pagodinho, Alceu Valença, Nat King Cole, Paul Simon, uma constelação de estrelas da mais alta grandeza. Participaram de todos os discos de samba-enredo de 1967 até o ano de 2005. Na década de 1990 participou da trilha sonora do filme de Caca Diegues, Orfeu. Neste período o grupo recebe uma nova vocalista, Nara, filha de Dinorah.

Plural, o grupo passou por diversas etapas da música brasileira. Consagrando uma carreira com mais de 40 anos, além dos discos solo teve presença em gravações de diversos artistas. Transita em todas as modalidades da música brasileira, enriquecendo a qualidade musical de diversos cantores em suas variadas manifestações.

 

Maninha Xucuru (século XX)

Etelvina Santana da Silva, Maninha Xucuru, membro do Comitê Inter-Tribal de Mulheres Indígenas em Alagoas(AL)

Primeira mulher a fazer parte da Articulação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo(Apoinme)

Em 1966, na aldeia Xucuru-Kariri, em Palmeira dos Índios, interior do estado de Alagoas(AL), nascia Etelvina Santana da Silva, mais tarde conhecida como Maninha Xucuru. Segundo a Fundação Nacional do Índio (Funai), os Xucuru-Kariri fazem parte de duas distintas etnias. A dos Xucuru em Alagoas e Pernambuco e os Kariri e Kariri-Xocó, de Alagoas.
A afirmativa de haver nascido em uma família de guerreiros- que tempos depois Maninha fazia questão de destacar-, deve-se principalmente as ações do avô, o cacique Alfredo Celestino, que com outras lideranças viajava dias a pé para cobrar das autoridades a devolução das terras que, pertencentes aos antepassados, haviam sido tomadas por fazendeiros e latifundiários ao longo dos anos. Na década de 1950, cansados de promessas nunca concretizadas, a família de Maninha liderou a primeira retomada de terra, na fazenda do Canto.
Foi nessa aldeia reconquistada, que Maninha tomou a difícil decisão, ainda menina, de tornar-se médica para cuidar de seu povo. Difícil, pois era preciso andar todos os dias, sob sol e chuva, cerca de sete quilômetros até a escola. Em 1978, aos 12 anos, comemorou com seu povo a conquista de mais um pedaço de terra, a Aldeia Mata da Cafuia, para onde se mudou com a família.
Ao final do Ensino Médio transferiu-se para Recife (PE), onde uma bolsa conseguida junto à FUNAI lhe permitira tornar-se aluna de um curso preparatório para a Faculdade. A alegria, porém não durou muito. Cinco meses depois foi "convidada" a deixar o curso. O órgão do governo responsável pelos indígenas só havia pago duas mensalidades!
Fora do curso, um emprego de balconista, que lhe dava um minguado salário, foi a tentativa de Maninha para sobreviver na cidade grande. Sobre a época, lembrava constantemente da distância da realização de seus planos de vida e da dificuldade de adaptação: "(…) Não conseguia mais ser uma Xukuru-Kariri e nem tampouco uma pessoa urbana", dizia. Situação ainda hoje comum a muitos dos/as indígenas brasileiros/as, que desde o início do processo de colonização do país vêm sendo expulsos de suas terras e privados de suas culturas.
O ano de 1989 foi um divisor de águas na vida de Maninha. Ao participar de um ato público promovido por lideranças indígenas, de diferentes etnias, que denunciavam as dificuldades encontradas por seus povos ao buscarem atendimento em hospitais públicos do Recife, despertou para a responsabilidade que, anos atrás, ainda criança, assumira consigo mesma.
Como consequência, decidira vencer na vida, mas vencer no local onde nascera, e assim retornou à aldeia. Se deparou com um povo dividido, brigando entre si por um pequeno pedaço de terra. O aumento das famílias tornara inviável a tradição da agricultura, forte marca cultural dos Xucuru-Kariri. Maninha arregaçou as mangas e agiu como apaziguadora, buscando e estimulando um consenso que permitisse o enfrentamento coletivo da questão junto às autoridades.
Em 1994, coordenou mais uma retomada de terra. Carros de som, financiados por fazendeiros que se julgavam prejudicados, circulavam pela cidade anunciando que os indígenas iriam invadir as casa dos/as moradores, incitando-os contra os Xucuru-Kariri. O enfrentamento causou a morte de um cacique e o desaparecimento de um índio. Contudo, puderam experimentar alguns avanços, como a construção de postos de saúde nas aldeias – que até hoje funcionam precariamente-, e escolas, uma delas voltada para a educação indígena.
Na década de 1990, Maninha participou de diversos encontros sobre a causa indígena em vários estados do país e, quatro anos depois, em 1994, integrou o grupo de fundação da Associação dos Povos Indígenas do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo (Apoinme), o qual coordenou por 16 anos. Tendo sido a primeira mulher a participar desse universo, composto majoritariamente por homens, enfrentou preconceitos e lutou para se impor e fazer valer suas idéias. A maior dificuldade desse período, contudo, lembrava constantemente eram as constantes ameaças de morte por parte de latifundiários contrariados.

Maninha esteve também responsável pela seção Alagoas/Sergipe da Coordenação de Apoio às Organizações Indígenas do Brasil ( Capoib) e várias foram as lutas pela retomada de terras das quais participou ativamente.
Junto a um grupo formado por 21 mulheres Xucuru-Kariri, em 1997 participou da constituição do Comitê Iter-Tribal de Mulheres Indígenas de Alagoas (Coimi). Oficializado em 2000, o Comitê que tem por objetivo fomentar a organização e o associativismo feminino na luta pela saúde, educação, auto-sustentabilidade e contra a violência de gênero, envolve e articula mulheres indígenas da região nordeste.
Por sua trajetória e atuação em busca da justiça e da paz, foi indicada em 2000, para o Projeto "1000 mulheres para o prêmio Nobel da Paz". O projeto tinha o objetivo de premiar mil mulheres do mundo todo que, por meio de suas experiências, contribuíram no estudo dos conflitos e na criação de políticas pela paz.
Em 11 de outubro de 2006, aquela que conquistou o respeito de indígenas de diferentes etnias e brancos faleceu, sendo enterrada no antigo cemitério indígena de Igreja Velha, no interior das terras pelas quais tanto lutara com seu povo. Quis o destino, que o sepultamento fosse na mesma data em que se completavam duas décadas de vitória pela reconquista do solo. Seu povo recebeu mensagens de várias nações indígenas do país e seu tio, o cacique da aldeia Xucuru-Kariri, destacou que a atuação da sobrinha deve ser lembrada desde a aprovação da Constituição, em 1988.
Além das muitas homenagens que recebeu em vida, destaca-se aquela in memoriam, em 2007, através do prêmio Renildo José dos Santos, destinado aos que tenham se dedicado à defesa dos direitos humanos. Maninha foi agraciada na categoria de defesa da identidade cultural.
A luta de Maninha, que se tornou exemplo para mulheres indígenas, negras e brancas, não foi em vão. Deixou frutos e continuará estimulando a organizações de mulheres país afora.
 

 

Núbia Lafayette (1937 – 2007)

Idenilde Araújo Alves da Costa despontou no mundo artístico com o nome de Núbia Lafayette. Nasceu em 21 de janeiro de 1937 em Açu, Rio Grande do Sul. Mudou-se com a família aos três anos de idade para o Rio de Janeiro. Talento precoce, apresentava-se desde os 8 anos de idade em programas infantis.

Durante duas décadas (1930 a 1950) o Brasil viveu o auge dos programas de rádio, especialmente os de auditórios. A cena musical era coroada por cantoras brilhantes como Dolores Duran, Maysa, Elizeth Cardoso, dentre outras. Essas cantoras influenciaram a jovem Idenilde, principalmente Dalva de Oliveira com suas canções melancólicas, sofridas e intensas. É neste contexto efervescente da música popular brasileira que Idenilde Araújo inicia sua carreira artística com o nome de Nilde Araújo, no período em que trabalhava como vendedora das Lojas Pernambucanas, do Rio de Janeiro. Foi despertada a participar do programa de calouros A voz de ouro na TV Tupi. Um dos jurados era Jordão Magalhães, proprietário da boate Cave, que se encantou com a voz de Nilde e a convidou para se apresentar na casa noturna por ele comandada. Lá conheceu o compositor Adelino Moreira, que com Nelson Gonçalves a levou para gravadora RCA..

O auge de sua fama foi na década de 1960. Seu maior sucesso foi a música Devolvi de Adelino Moreira. Consolidou sua carreira com obras como Solidão e Prece a lua. Músicas densas, apaixonadas que têm por característica principal falar de amores desfeitos e o sofrimento das paixões não correspondidas. É dessa época a adoção no nome artístico de Núbia Lafayette com o qual foi consagrada com o título de “A voz sentimental do Brasil” e considerada uma das maiores cantoras romântica de todos os tempos.

Sua última apresentação foi dia 09 de maio de 2007, em Recife no 13º Festival Nacional da Seresta no Marco Zero, na chamada Noite do Bolero, ao lado de Lana Bittencourt, Waldick Soriano, Trio Yrakitan, Agnaldo Timóteo, dentre outros cantores românticos. Um mês depois, foi internada no Hospital das Clínicas de Niterói devido a um acidente vascular cerebral hemorrágico, falecendo a 18 de junho de 2007.
 

Maria José Jaime (Bizeh) (1941- 2007)

Nascida em 1941, filha de Maria do Rosário Roriz Jaime e José Sisenado Jaime, era natural de Silvânia, distante 80 km da capital, Goiânia (GO), para onde se mudou ainda criança. Bizeh, como era carinhosamente chamada, foi aluna do Externato São José e mais adiante do Instituto de Educação de Goiás.
Ainda estudante do curso de História e Geografia na Universidade Católica de Goiás (UCG), na década de 1960, ministrava aulas sobre formação econômica no Brasil, tendo sido mestra no curso clássico de ilustres brasileiros, como Celso Furtado, Caio Prado Junior e Nelson Werneck Sodré.
Na ocasião passou a atuar como militante da juventude católica, envolvendo-se na Ação Popular-AP, movimento surgido em 1963, no seio da igreja. Anos depois, com outro perfil político e reunindo militantes de diversas tendências, a Ação Popular patrocinou, em 1969, para Bizeh e um grupo formado por mais dez pessoas, um curso na China comunista.
A mudança para o Rio de Janeiro ocorreu após a conclusão da graduação. Sua intenção era fazer pós-graduação na Faculdade Nacional de Filosofia, o que, entretanto, não ocorreu por haver se envolvido com o trabalho de assessoria a Vinicius Caldeira Brant, presidente da União Nacional dos Estudantes. Sua especialização em História do Brasil, pela Universidade de São Paulo- USP ocorreria apenas em 1967, onde estudou com Sérgio Buarque de Hollanda.
Perseguida pelo regime militar viveu na clandestinidade entre 1966 até 1971, quando se exilou no Chile, país onde também atuou em defesa dos direitos humanos. Sobre esse período da vida, poucos dias antes de falecer escreveu um texto, no qual recordava o duro período imposto aos chilenos e aos estrangeiros, que como ela, combateram a queda de Salvador Allende e a chegada ao poder da ditadura do general Pinochet.
Também no Peru e Argentina atuou na clandestinidade. Nesse último país fez mestrado em Ciências Políticas e Sociais, na Faculdade Latino Americana de Ciências Sociais- Flacso, concluído em 1976.
Após 12 anos no exterior, Bizeh retornou ao Brasil em 1979. A anistia à condenação de cinco anos de prisão e dez de cassação dos direitos políticos, havia sido concedida pelo Superior Tribunal Federal em outubro de 1978. Durante o período de clandestinidade, as adversidades, perseguições, prisões e duas tentativas de sequestro por parte do grupo paramilitar chefiado pelo delegado Fleury lhe causaram sérios problemas de saúde.
Ainda no segundo semestre de 1979, apoiada por alguns amigos/as e companheiros/as do Centro Brasil Democrático – Cebrade, onde atuava politicamente contra a ditadura e pela Anistia, fundou o Instituto de Estudos Socioeconômicos (Inesc).
Anos depois explicaria que o surgimento do Inesc foi consequência de sua decisão de permanecer trabalhando na área político-social sem, entretanto, vincular-se a partidos políticos. Motivou-a também a precariedade das assessorias disponíveis a deputados e senadores, que pode observar a partir de visitas realizadas ao Congresso Nacional. Daí, desde o princípio, a preocupação que o Instituto não se transformasse em uma empresa, mas sim em uma instituição prestadora de serviços à sociedade.
Na prática, Bizeh procurava parlamentares que se opunham à ditadura e buscava convencê-los da necessidade de trabalhar em conjunto com o Inesc, que oferecia uma assessoria política e técnica, que ia desde pequenos discursos até aos grandes projetos de lei, pareceres e estudos.
Não é difícil imaginar as dificuldades e preconceitos enfrentados por uma mulher, dentro de um universo então majoritariamente masculino. Em entrevista concedida em 1999, assim Bizeh relembrou o processo vivido inicialmente: " (…) alguns se sentiam na obrigação de dar primeiro uma cantada. E como(…) não funcionava começava a discussão política. Era uma situação de machismo, extremamente constrangedora(….) tive de encarar isso e não desistir(…)".
A atuação do Inesc passou por diferentes e importantes questões nacionais: indígenas, seringueiros e a processo de construção da Constituição Brasileira de 1988. Em 1992, mais uma vez, articulando diferentes setores e segmentos da sociedade civil, o instituto teve uma marcante atuação no processo de impeachment contra Fernando Collor e pela defesa da ética na política. Bizeh também esteve à frente do movimento que resultou na Campanha Nacional Contra a Miséria e a Fome, encabeçada por Betinho.
Ao falecer em 2007, deixou um importante testemunho em defesa dos direitos humanos e de lutas pela liberdade e justiça. Bizeh também se envolveu com questões relacionadas aos meninos e meninas de rua, à diversidade sexual e ao feminismo.
Dentre as homenagens que recebeu destaca-se em 2008 o lançamento, pelo Inesc, do vídeo batizado com seu próprio nome e que reúne depoimentos de pessoas que a acompanharam sua trajetória pessoal, social e política.

 

Selma do Coco ( 1935 – )

Selma do Coco – Selma Ferreira da Silva ( 1935 – )
Cantadora de coco e tapioqueira

Nascida em Vitória de Santo Antão (PE), Selma Ferreira da Silva, conhecida como Selma do Coco, travou contato com o coco de roda ainda na infância, através dos avós e dos pais, ocasião em que cantava junto aos adultos.
Foi em Mustardinha, periferia da cidade de Recife (PE), para onde se mudou aos 10 anos, que casou, teve 10 filhos e ficou viúva aos 30 anos. Então, como forma de sobrevivência da família se dedicou à venda de tapioca, no Alto da Sé, Varadouro e na Ribeira, localizados na cidade histórica de Olinda, para onde se mudou no final da década de 1950.
A concorrência, contudo, era grande e para enfrentá-la, Selma associou a tradicional receita da culinária nordestina ao som do coco de roda, como forma de atrair clientes e turistas. A idéia deu certo, ganhou adeptos, e o quintal de sua casa vivia lotado, tanto assim que, atendendo ao pedido dos frequentadores/as chegou mesmo a gravar artesanalmente, algumas fitas com as músicas que cantava.
A partir da década de 1980 sua fama começou a se espalhar e Selma do Coco, aos 64 anos, passou a realizar shows. Em 1996 foi um dos destaques do Festival Abril pro Rock, ampliando sua a legião de fãs. No carnaval de 1997 uma de suas músicas, A Rolinha, tornou-se hit do carnaval e deu a Selma sucesso nacional, sendo interpretada por diferentes cantores.
Além do Brasil, Selma que recebeu em 1999 o prêmio Sharp de Música, pelo disco Minha História, já se apresentou em diversos países da Europa, inclusive com o patrocínio do Ministério da Cultura. Na Alemanha, a Rainha do Coco foi tema de um doutorado que trata de cultura popular e atendendo a convite do Instituto Cultural de Berlim participou da gravação de Heróis da Noite, disco no qual aparece ao lado, entre outros, de cantores africanos. Não foi o único, contudo, pois Cultura Viva foi gravado e mixado também na Alemanha e destinado ao público apreciador de World Music.
Nos Estados Unidos marcou presença no Festival Lincoln Center em Nova Iorque, sendo a única brasileira a ter participado do Festival de Jazz de Nova Orleans. Dentre as inúmeras homenagens que recebeu no Brasil, destaca-se aquela prestada pela Universidade de Brasília, em 2002.

A imprensa estrangeira- The New York Times- grandes jornais brasileiros, programas de televisão e uma das principais revistas femininas do país registraram a trajetória dessa mulher negra e nordestina, que tem sido de enorme importância para preservação das tradições nordestinas e brasileiras pelos quatros cantos do mundo.

 

Tia Doca (1933 – 2009)

Tia Doca – Jilçária Crus Costa (1933-2009)
Pastora da Velha Guarda da Portela

Toca o surdo, pandeiro e tamborim para esta figura emblemática do samba carioca. Jilçara Crus Costa, carinhosamente chamada de Tia Doca foi integrante da Velha Guarda da Portela desde 1970 e referência nos subúrbios cariocas de Oswaldo Cruz e Madureira, berço da Escola.

Antes de dedicar-se exclusivamente ao samba foi tecelã e empregada doméstica. Teve 03 filhos e foi casada com Doca. Após a separação do marido criou, em 1979, um dos mais importantes espaços de pagode da cidade – O Terreirão da Tia Doca -, onde diversos cantores de samba descobriram sua vocação, dentre eles pode-se citar Zeca Pagodinho, Dudu Nobre, dentre outros talentos. Com o sucesso o repertório da roda de samba virou um cd, em 2000, intitulado Pagode da Tia Doca.

Pastora da Portela, desde 1970, tocava, cantava e sambava. Era uma das vozes femininas do samba, participava de inúmeros eventos promovidos pela Escola, rodas de samba, fazia shows. Com sua escola do coração apresentou-se na Itália, França e Estados Unidos.

Gravou com Zeca Pagodinho e Beth Carvalho. Foi uma das figuras homenageadas no documentário O Mistério do Samba, dirigido Lula Buarque de Hollanda e Carolina Jabor e produzido pela cantora Marisa Monte, em 2008. Também corria nas veias a criatividade de compositora. É de sua autoria os sambas Temporal e Orgulho Negro, este último imortalizado na voz de Jovelina Pérola Negra.

Não foi apenas Madureira que chorou na tarde de domingo do dia 25 de janeiro de 2009, quando o coração que batia no ritmo e na cadência do samba parou. Também o mundo do samba chorou com a morte de uma das figuras mais ilustres da passarela, do palco e da alegria carioca – Tia Doca.

 

 

 

Bel Baltar (1947 – 2008)

Bel Baltar – Maria Isabel Baltar da Rocha Rodrigues (1947 -2008)

Socióloga e militante feminista

Maria Isabel Baltar da Rocha Rodrigues, carinhosamente chamada de Bel Baltar, nasceu em Pernambuco em 1947. Era conhecida por sua luta em prol dos direitos humanos, direitos sexuais e reprodutivos, com ênfase na luta em favor da legalização do aborto.

Era mãe de quatro filhos. Quando estava grávida da sua primogênita, no auge do regime militar, foi presa e torturada. A perseguição e violência sofrida nunca a desviaram de seus objetivos políticos e humanitários.

Considerada uma das mais importantes sociólogas brasileiras, possuía formação primorosa: Graduação em Ciências sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1969); mestrado em Ciências Políticas pela Universidade de São Paulo (1980); doutorado em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Campinas (1992) e pós-doutorado pelo Centro de Estudos Demográficos da Universidade Autônoma de Barcelona – Espanha (2000).

Era professora colaboradora e membro do Conselho do Programa de Pós-graduação em Demografia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Unicamp. Desenvolvia pesquisas sobre políticas populacionais, saúde reprodutiva e saúde da mulher trabalhadora. Foi integrante da coordenação do Programa de Estudos em Saúde Reprodutiva e Sexualidade do Núcleo de Estudos de População da Unicamp, entre 1993 a 1999.
Em 2001 foi eleita Secretária Executiva da Rede Feminista de Saúde, Direitos Sexuais e Direitos Reprodutivos (Rede Feminista de Saúde). De 2003 até sua morte participou do Conselho Consultivo da Red de Salud de lãs Mujeres Latino americanas y del Caribe (RSMALC).

Entre os anos de 2004 a 2006 integrou o Comitê Assessor Nacional da Comissão Intergovernamental de Saúde Sexual e Reprodutiva do Mercosul do Ministério da Saúde. Atuou como membro do Conselho Consultivo da Associação Brasileira de Estudos Populacionais (ABEP) e integrava o Conselho Consultivo de Católicas pelo Direito de Decidir.

Os adjetivos carinhosos se somam ao pesar de uma morte repentina: brilhante, parceira, amiga, talentosa, companheira, doce, sorridente, gentil, amável, comprometida, responsável, tranqüila, atenta, perspicaz, conciliadora, propositiva…Reconhecimento do feminismo brasileiro a figura emblemática de Bel Baltar. Sua representatividade na luta por igualdade a colocou entre os expoentes do feminismo brasileiro e latino americano. Sua trajetória representa por si só a carreira de uma mulher brilhante e a figura humana respeitada e adorada.

No dia 14 de outubro de 2008, durante o trajeto de São Paulo a caminho de seu trabalho na Unicamp faleceu vitimada por um acidente de trânsito aos 61 anos de idade, deixando um legado de luta e reivindicações em prol da equidade de gênero.