- Volume 2
- Século: XX
- Estado: RJ
- Etnia: Branca
- Atividade: Enfermeira, jornalista, historiadora, primeira voluntária brasileira para a Segunda Guerra Mundial
Descrição:
Natural do Rio de Janeiro, carioca do bairro de Copacabana, filha dos alagoanos Aristhéa Cansanção e Tadeu de Araújo Medeiros, médico sanitarista auxiliar de Oswaldo Cruz durante a campanha contra a febre amarela, Elza, aos 19 anos, foi a primeira brasileira a se apresentar como voluntária à Diretoria de Saúde do Exército, para participar da Segunda Guerra Mundial.
A decisão de participar da guerra ocorreu quando Elza ainda era menor de idade. A única possibilidade, contudo, por ser mulher, seria como enfermeira e, diante da recusa do pai, recorreu a mãe para ingressar, em 1942, na turma de Samaritanas, em curso oferecido pela Escola de Enfermaria da Cruz Vermelha.
Antes de seguir para Alagoas, ao término do curso em 1943, dirigiu-se ao Ministério do Exército e manifestou seu desejo de servir ao país. Obteve do então Diretor de Saúde, General Souza Ferreira, a promessa de que seria avisada em caso de deslocamento das tropas. Na ocasião recebeu ainda uma carta de recomendação, a mesma que apresentou ao Comandante da 7ª Região Militar, no Recife, para onde se deslocou após haver organizado o socorro aos feridos do navio Itapagé, em Alagoas, bombardeado pelos alemães.
Primeira mulher enfermeira do Hospital Militar do Recife foi convidada a reorganizar a Cruz Vermelha local. Nesse sentido, sua decisão de convidar as moças da sociedade que haviam concluído o curso de voluntárias socorristas, oferecido pela Faculdade de Medicina, causou grande reboliço entre as famílias tradicionais, que temiam que suas filhas fossem mandadas para os campos de batalha. Seu pioneirismo, contudo, já era evidente. Aos 22 anos chamava a atenção da pacata cidade de Maceió quando, de cigarro na mão e trajando short, lavava o jipe na porta de casa. Além disso, também pouco comum para sua época, era o fato de haver sido aluna de Hélio Gracie no curso de defesa pessoal.
Foi lá no Recife onde recebeu o telegrama do Ministério do Exército avisando da abertura do curso de voluntariado de enfermeiras e, no dia seguinte, Elza já estava de volta ao Rio de Janeiro. Tinha 22 anos quando ingressou na primeira turma do Curso de Emergência de Enfermeiras da Reserva do Exército (CEERE), destacando-se entre as três primeiras colocadas.
Posteriormente, primeira convidada para integrar o destacamento Precursor de Saúde, se deslocou para a Itália em 1944, recepcionando os cinco mil brasileiros da FEB que estavam a bordo do navio General Mann. Por seu domínio da língua inglesa-além do francês, italiano e um pouco de alemão-, atuou como intérprete, junto aos médicos e enfermeiras que atendiam aos cerca de trezentos feridos brasileiros encaminhados ao 45th Field Hospital, em Nápoles. Aqui, Elza presenciou a visita de Clarice Lispector, então esposa do cônsul brasileiro na Itália, aos internos.
Dirigindo-se ao comandante da Força Expedicionária Brasileira- FEB, relatou a forma humilhante como as enfermeiras brasileiras- que não tinham patente militar- eram tratadas pelas colegas americanas- todas oficiais. Graças a Elza, as profissionais brasileiras, após análise realizada pelas forças militares, passaram a ocupar o posto de 2º Tenente. Além de Elza Medeiros, também Antonieta Ferreira, Carmem Bebiano, Ignácia de Melo Braga e Virginia Portocarreiro receberam a promoção. Transferida para o 7th Station Hospital, na cidade de Livorno, encontrou um quadro de desordem disciplinar, sendo convocada pelo coronel Ponce, subchefe da unidade, para colocar “ordem na casa”, o que conseguiu após árduo trabalho.
Problemas de saúde a levaram a desligar-se da função- uma queda ocasionou rachadura na coluna e conseqüente perda dos movimentos da mão-, assumindo, entretanto, o cargo de oficial de ligação, atuando mais uma vez como intérprete, no 45th e, posteriormente, no 182th Hospital, de onde regressou ao Brasil após o final da guerra, 1945, sendo condecorada junto a outras 24 enfermeiras, como enfermeira de Segunda e, logo em seguida, de Primeira Classe. Aliás, a recomendação médica para que enfrentasse o problema da perda de mobilidade amassando barro, a conduziu ao curso da Sociedade Brasileira de Belas Artes. O resultado é que suas muitas esculturas lhe proporcionariam várias premiações desde então.
Dentre as muitas homenagens e medalhas que receberia durante a vida, Elza, é única mulher agraciada com a Ancien Combatant du tatre du Operacion du L` Orope, além das medalhas de campanha e a de Meritorius Service United Plaque, concedida pelo exército americano.
Retornando ao Serviço de Saúde do Exército em 1957, serve em várias unidades e participa como palestrante de Congressos de Medicina Militar e de Enfermagem e, palestras para alunos/as na Escola de Saúde do Exército. Dessa época é a condecoração oferecida pelo governo do Paraguai: a medalha Abnegacion y Constancia Honor al Mérito.
Após reassumir suas funções no Banco do Brasil, entre 1963 e 1965- ocasião em que recebe a Medalha do Pacificador-, desloca-se para o Serviço Nacional de Informações- SNI, de onde desliga-se em 1966. Posteriormente, além da participação em congressos – suas sugestões para a criação de um Corpo Auxiliar Feminino para as Forças Armadas, contribuíram enormemente para a abertura das Forças Armadas do Brasil à participação das mulheres-, e palestras, atuou na Policlínica Central do Exército e Clínica de Cardiologia.
Como conseqüência do agravamento de seu estado de saúde, em 1976 foi promovida a Major. Sempre ativa Elza organizou na terra de seus pais, em Maceió, o Museu da II Guerra Mundial, que reúne mais de cinco mil fotos e documentos. Por essa iniciativa recebeu da cidade o título de cidadã. Membro da Academia Alagoana de Cultura, a aluna da primeira turma de jornalistas diplomados pela antiga Faculdade Nacional de Filosofia, com formação ainda em História das Américas, Psicologia, Parapsicologia, Turismo e Relações Humanas é também escritora, com três publicações sobre sua participação na II Guerra. Aliás, uma vocação de infância, pois aos 12 anos já colaborava com revistas e pequenos jornais de Alagoas, tendo mais tarde colaborado com jornais do Rio de Janeiro e Recife.
Por sua trajetória, a Major Enfermeira Reformada Elza Cansanção Medeiros é considerada a Decana das mulheres militares do Brasil.