Eros Volusia Machado (1914 – 2004)

  • Volume 2
  • Século: XX
  • Estado: RJ
  • Etnia: Branca
  • Atividade: Dançarina

Descrição:

Nasceu em São Cristóvão, bairro do Rio de Janeiro a 1 de junho de 1914. Dançarina, ganhou projeção internacional com o nome de Eros Volúsia. Desenvolveu coreografias inspiradas na cultura brasileira, foi responsável pela criação de um bailado essencialmente nacional.
As primeiras décadas do século XX no Brasil, foram períodos de construção de uma identidade e da valorização da mestiçagem. Eros Volúsia vivenciou toda esta profusão de idéias de vanguarda que fluía neste período no Brasil: Semana de Artes Moderna, Gilberto Freire com o trabalho Casa Grande & Senzala, Getúlio Vargas e a política desenvolvimentista. Foi nesse contexto de nacionalismo crescente, de turbulência e profusão de novas propostas de interpretação do Brasil que Eros mesclou o ballet com as danças populares nacionais, incorporando ao ballet clássico movimentos do bailado brasileiro. A singularidade de seus movimentos criou identidade própria para dança brasileira, expressando a diversidade cultural que pulsava e que percebia suas raízes no híbrido, na miscigenação.
Seu talento artístico sofreu grande influência familiar, pois era filha do poeta Rodolfo Machado e da poetisa Gilka Machado. A mãe com sua poesia simbolista do início do século XX exerceu grande influência sobre Eros Volúsia. Era muita ousadia para uma mulher naquele período, escrever poesias com insinuações ao erótico. Gilka Machado e sua mãe abriram uma pensão na rua São José, centro do Rio de Janeiro; freqüentada por intelectuais do início do século XX. Eros além da influência familiar, conviveu neste espaço com figuras renomadas da política e da intelectualidade brasileira. Apresentou-se em um sábado festivo para a então primeira-dama Darcy Vargas, conheceu escritores tais como o jovem Nelson Rodrigues; poetas, músicos e outros expoentes da arte nacional.
Iniciou sua formação clássica em ballet aos 14 anos de idade, na Escola de Bailados do Teatro Municipal do Rio de Janeiro – a primeira oficial do Brasil. Foi aluna de Maria Olenewa, bailarina russa, que se naturalizou brasileira e que foi responsável pela organização da escola de dança e do corpo de baile do Teatro Municipal do Rio de Janeiro.
Sua primeira apresentação pública foi no palco do teatro onde estudou, em 1929, onde participou de uma homenagem ao então presidente Washington Luiz. A bailarina apareceu dançando descalça, acompanhada por violão e batucadas. O que se caracterizou, naquele período, uma ousadia, tendo em vista as tradições daquele espaço. Ousadia que Eros nunca abandou em toda sua vida artística. Suas coreografias eram caracteristicamente brasileiras: Amor de Iracema, Peneirando o fubá, Moleque capoeira, Cascavelando e O Guarani – espetáculo apresentado no Teatro Municipal e que teve a presença do então presidente da república Getúlio Vargas e de seu corpo diplomático.
Eros Volúsia foi e é uma das figuras mais importantes da dança brasileira. A primeira bailarina a dançar samba de sapatilhas. Ousada, usava trajes de baiana com a barriga de fora, apresentava-se em cassinos. Com a mesclagem do clássico com o popular Eros criou uma nova estética, incorporando novas metodologias na dança; teve a inteligência e sensibilidade para incorporar manifestações do Brasil inteiro como o frevo, o maracatu, o caboclinho, danças de terreiros. Inaugurou o que seria futuramente conhecido por “dançarino-pesquisador”, que resgata a formação do conhecimento artístico – a técnica – com a sensibilidade artística, para além da técnica. Usava de todo recurso que o corpo podia expressar, com os movimentos de olhos, das mãos, dos quadris, e na boca um convidativo sorriso. Cria uma dança alegre e híbrida, ao mesmo tempo brasileira e universal. Seu corpo era o instrumento da inovação
Na edição de 22 de setembro de 1941, a revista Life publicou sua foto na capa. Única artista sul americana a conseguir tal proeza. Tornou-se ainda mais famosa e requisitada. Atuou em vários filmes nacionais: Favela dos Meus Amores (1935), Samba da Vida (1937), Caminho do Céu (1943), Romance Proibido (1944) e Pra Lá de Boa (1949). A fama internacional aconteceu após participação no filme Rio Rita (1942), uma comédia da Metro-Goldwyn-Mayer, dirigida por S. Sylvan Simon. Conhecedora de diversos ritmos e bailados, apresenta-se neste filme em número musical que utiliza temas afro-brasileiros, marcando definitivamente sua carreira.
Foi Professora do Serviço Nacional de Teatro, onde criou o curso de coreografia. Este é considerado o primeiro, dentre os cursos de dança nacional, a aceitar bailarinos negros.
Faleceu a 01 de janeiro de 2004.