Jardelina Acácia de Figueiredo (1877 – 1966)

  • Volume 2
  • Século: XX
  • Estado: TO
  • Etnia: Desconhecida
  • Atividade: Costureira e funcionária pública

Descrição:

Jardelina Acácia de Figueiredo nasceu em São José do Tocantins, atualmente Tocantinópolis, cidade ao norte do Estado de Goiás, hoje pertencente a Tocantins, em 21 de junho de 1877. Filha de Germana Acácia de Figueiredo e Gregório Acácio Figueiredo, chefe político local, um republicano que não escondia sua vontade de transformar o Brasil, ao contrário dos monarquistas da época.

No ano da proclamação da República, em 1889, quando completava 12 anos de idade, Jardelina conheceu o Capitão Antonio Francisco Mendes Machado, de 52 anos, Comandante da Força Pública, e que havia lutado na Guerra do Paraguai. Casou-se com ele dois anos depois e tiveram oito filhos.

Moraram nas cidades goianas de Leopoldina (hoje, Aruanã), Goiás Velho (Cidade de Goiás) e Alemão (atualmente, Palmeiras de Goiás), onde, em 1910, o Capitão Machado foi nomeado Coletor de Impostos e Jardelina, Agente dos Correios.

Nessa época, revela-se o pioneirismo de Jardelina. A fim de facilitar o seu trabalho e, principalmente ficar em evidência para a população, instala a primeira agência dos Correios da região na sala da frente de sua própria casa. Transforma-se num ponto de referência para os cidadãos de Alemão. Além disso, Jardelina era exímia costureira e, mesmo acumulando suas tarefas, conseguia ainda ajudar o marido e educar os filhos com amor.
Em 1926, ano em que fica viúva, a Coluna Prestes, comandada pelo General Miguel Costa, chega à cidade. Sem parar em nenhum outro local, a tropa procura exatamente a Agência do Correio. Ao saber que uma costureira era a chefe da agência, o general manda chamá-la. Estupefato ao ver uma mulher de pequena estatura e de aparência frágil chefiando um órgão público, fica meio desconcertado, mas mesmo assim, encosta um revólver na cabeça de Jardelina, intimando-a a entregar imediatamente as malas postais. Diante do absurdo daquela situação, pois era de sua responsabilidade a inviolabilidade da correspondência, ela reage com determinação e diz: “O senhor vai matar a última viúva da Guerra do Paraguai ?” O general fica ainda mais desconcertado. Abaixa o revólver e manda que seus soldados saqueiem todas as malas. Apesar das lágrimas de Jardelina, os homens de Miguel Costa, bastante constrangidos, rompem os lacres e retiram todo o dinheiro remetido na postagem.

Em 1927 deixa o cargo que lhe deu muita alegria e também muita tristeza. No ano seguinte, após muitas dificuldades financeiras, a costureira Jardelina e suas duas filhas solteiras, Carolina e Acácia, mudam-se para Vianópolis, ponto final da Estrada de Ferro Goiás. A vida difícil da viúva, sem nenhum amparo do governo, seria um pouco amenizada com a Revolução de 1930, quando as encomendas de fardas para os soldados aumentam. Aos poucos, os brins cáqui vão enchendo a casa. E isso acontece até 1932, quando irrompe a Revolução Constitucionalista de São Paulo, garantindo a Jardelina e suas filhas, seu próprio sustento.

Ainda no ano de 1932, acontece um fato que a ex-agente do Correio jamais iria esquecer, fazendo-a lembrar de seu primeiro emprego: a chegada do primeiro avião do Correio Aéreo Nacional – o “aeroplano” – no campo de futebol da cidade.
Nos anos 50, ainda mantendo a costura como sua fonte de renda, Jardelina Acácia de Figueiredo chega a Goiânia com as filhas, onde falece aos 89 anos, no dia 18 de julho de 1966. (Colaboração Francisco Humberto Mendonça de Araujo).