- Volume 2
- Século: XX
- Estado: SP
- Etnia: Negra
- Atividade: Ativista política, feminista e militante do movimento negro
Descrição:
Nasceu a 29 de junho de 1960, em Flórida Paulista, SP. Ainda menina mudou-se com a família para Osasco na região da Grande São Paulo.
De família de poucos recursos trabalha desde os 14 anos de idade. Foi operária, recepcionista, auxiliar administrativo, assistente social, coordenadora de projetos na área social e ministra.
Matilde Ribeiro galgou degrau por degrau uma carreira invejável. Seu espírito combativo foi forjado na prática de intervenções em diversos projetos e ações políticas, na luta contra o racismo, sexismo, a inserção social e política da mulher negra e igualdade de direitos para todas.
Senhora de frases polêmicas, não tem medo de dizer o que pensa. A lucidez de sua fala muita vezes a colocou em situações delicadas, pois incomodou aqueles que se beneficiam da estrutura e contexto social vigente.
Graduou-se em Serviço Social, adquiriu o grau de mestre em Psicología Social e no momento está em processo de doutoramento pelo Programa de Estudos Pós Graduados em Serviço Social, pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC). Muito preocupada com sua formação, realizou diversos cursos de extensão sobre relações raciais, políticas públicas e gênero.
Possui farta experiência na área dos direitos humanos e da inserção da população negra, sobretudo mulheres negras. Escreveu dezenas de artigos para variadas revistas e jornais.
Em finais da década de 70 as organizações de mulheres negras em torno das questões da igualdade de gênero tomava força. Matilde foi despertada para o combate ao vivenciar a dupla condição de mulher e negra. Diversas mulheres negras influenciaram a jovem Matilde: Lélia Gonzáles, Maria Beatriz Nascimento, Neusa das Dores, Luiza Bairros, Sueli Carneiro, Nilza Iraci e tantas outras. Elas tornaram-se referência obrigatória na reflexão sobre a história do movimento de mulheres negras do Brasil.
Os anos de 1980 traz no seu bojo um movimento mais definido, assim como as organizações de mulheres, ONG’s formadas por mulheres negras traziam de maneira mais formal o enfrentamento, o debate político. Abrem-se novas frentes e discussões. Dentro e fora do Brasil as negras se instrumentalizam, preparam-se para o debate; e Matilde assim como sua geração bebeu desta fonte.
Tendo por herança a luta das ancestrais negras e ciente de que a mudança se dá pela ação política, Matilde envolveu-se na militância no Movimento de Mulheres e no Movimento Negro. Escolheu como uma das frentes de atuação a ação política. Filiou-se ao Partido dos Trabalhadores, no final dos anos 1980.
Assumir a dupla condição de ser mulher e negra em um país que forja e vive a ilusão e a hipocrisia de uma cordialidade racial é missão ingrata. Ousar escapar dos estereótipos criados para a condição da mulher negra, paga-se preço muito alto. Matilde ousou não aceitar estes estereótipos, ousou sair da cozinha e freqüentar as salas do poder, das deliberações; na tentativa de subverter esta dada ordem social que apenas beneficia uma camada específica da população.
Matilde Ribeiro atuou no serviço público e em diversas organizações não governamentais. Fez parte do grupo fundador do Soweto Organização Negra em São Paulo. Entre os anos de 1982 a 2002, atuou nas prefeituras de Osasco, São Paulo e Santo André; na Sempre Viva Organização Feminista – SOF, no Instituto Cajamar, na Faculdade Metropolitanas Unidas (FMU), Sindicato dos Metalúrgicos do ABC e no Centro de Estudos sobre Trabalho e Desigualdades – CEERT. Fez parte de diversos fóruns nacionais como o Fórum de Mulheres Paulistas e o Movimento Nacional de Mulheres Negras.
Participou de diversos eventos e atividades nacionais e internacionais. Dentre eles, destaca-se o I Encontro Latino-Americano de Mulheres Negras (República Dominicana em 1992); Conferência Preparatória da Conferência Mundial sobre a Mulher (Mar Del Plata, Argentina, em 1994) e Conferência Regional para América Latina e Caribe – Preparatória a Conferencia de Revisão de Durban (Brasília, 2008)
Sua trajetória e escolhas quanto às intervenções sociais e políticas, a conduziram a contribuir na equipe da campanha petista nas eleições presidenciais em 2002, tendo sido uma das responsáveis por sistematizar o programa de governo sobre políticas de promoção da igualdade racial. O presidente eleito, Luis Inácio Lula da Silva, em reconhecimento as lutas históricas do Movimento Negro no Brasil e suas reivindicações, cria em 2003 Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial – SEPPIR; com status de ministério. Matilde foi convidada para estar à frente do órgão, onde permaneceu de 2003 a 2008, enfrentando muitos desafios e desafetos.
Depois da experiência ministerial, Matilde Ribeiro continua seus estudos e militância, acreditando que o protagonismo das mulheres negras é decisivo para a superação da discriminação de gênero e raça no Brasil.